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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"À Minha Cara Amiga, Laninha " Fábio Graa


"No entanto, uma só coisa é necessária;

Maria escolheu a melhor parte,

e esta não lhe será tirada" (Lc 10,42)


Hoje, dia 01 de fevereiro de 2011, dia da apresentação do Senhor, uma cara amiga, a Eliane - a quem chamo de Laninha e que, vez ou outra, comenta neste blog - está indo fazer experiência numa congregação de religiosas contemplativas, irá fazer a sua apresentação ao Senhor. E quero aproveitar o ensejo, para escrever-lhe um pequeno artigo e dizer-lhe que eu partilho da sua alegria.

Laninha sempre foi uma pessoa de quem eu sabia da existência e só. Eu sempre a via, mas não a distinguia de outras mil. É como diz a raposinha ao Pequeno Príncipe: se não me cativares, serás como outros tantos. Certa vez, porém, a vi segurando uma revista que trazia estampada na capa a foto de Dom Helder Câmara, expoente da Teologia da Libertação, pelo que a Laninha, se não me fez perder o interesse de vez, surgiu à minha vista como uma oportunidade de labor missionário, rsrs...

Nessa época, ela esteve nos ajudando intensamente na organização do Musical da Paixão que fizemos no ano de 2010. Este tempo precioso foi suficiente para que nos conhecêssemos um pouco melhor e fui notando que ela era um tipo de pessoa que eu apreciava. Depois do musical, organizei o grupo de estudos sobre religião, filosofia... e fiz questão de lhe convidar. Nessas formações, ela era o que eu chamava de "fidelíssima" e assistia as exposições com muito interesse. Foi aí que tivemos ocasião de conversar mais tranquilamente, sem os aperreios dos ensaios teatrais. Fui descobrindo em Laninha uma pessoa bem mais madura do que eu supunha; bem mais séria, bem mais dócil ao mistério. Nos tornamos amigos...

Eu sabia, ou pelo menos supunha, que seria muito fácil que nos tornássemos daquelas pessoas que conversam bastante, que vivem a trocar idéias, a sorrir juntas e sabia também que ela intentava seguir a vida religiosa. Isto foi suficiente para que eu evitasse uma aproximação maior. A partida é bem mais fácil quando o apego não se construiu. E esta isenção do apego ajuda a manter a pureza do afeto. Que nos diga a grande Teresa D'Avila, por quem partilhamos um interesse comum.

Enfim, hoje chegou o grande dia e, embora um pouco remexido por dentro - se bem que eu não dê a perceber...rs, afinal eu sou um bom ator... rsrs - me alegro pela sua coragem, pela doação da sua vida, por saber que ela deixa um rasto de luz pelo seu exemplo, abandono e disposição em seguir a voz de Cristo Nosso Senhor.

Não sei se faço bem denunciar um pouco da minha alma nesta postagem. Mas meu intento aqui é tão somente dizer que aprendi a amar essa menina, embora eu fizesse questão de não demonstrar. Aprendi a respeitá-la muito e tive, discreta e sutilmente, profundas lições com o seu convívio.

Deus a abençõe, minha cara. Não perca o foco: estás rumando ao mosteiro para ser santa, não para outra coisa. O teu amor por Jesus deve agora se tornar um grande incêndio, em comparação ao qual o meu, que sou um simples leigo, apareça apenas como um pedacinho de gelo, como diz Deus Pai a Santa Catarina nos seus Diálogos. Ame a Nosso Senhor com violência, pois, conforme Ele disse, são os violentos que alcançam o Reino; são os violentos que quebram o frasco de perfume caríssimo sobre os pés do divino Mestre. O perfume caríssimo é a tua vida, toda ela. Se o fizerdes, o perfume encherá toda a casa e aproveitará a Deus, à Igreja e até a mim, este pobre pecador inveterado que sou. Violência, mas Paz que é o traço dos contemplativos.

E se ainda posso dar algum conselho, o faço: não descuide da doutrina, não descuide da Liturgia, não ceda às novidades, seja obediente aos superiores e arranque da tua alma todo e qualquer resquício de amor próprio.

Enfim, que a Virgem Santíssima te ensine a ser uma santa contemplativa. Lembre-se de mim vez em quando e reze pela minha pobre alma.

Deus a abençoe e guarde. Sei que é, a princípio, só uma experiência de três meses que antecede a entrada definitiva. Mas, ainda assim, seja desde já uma monja de Nosso Senhor. Quanto a mim, perdoe-me qualquer coisa.

Deixo um trecho de uma das minhas poesias favoritas, de Sta Teresinha, e que bem expressa a beleza da sua vocação:

"Ao ver-vos, meu Jesus, deixar da mãe os braços, e com seu terno auxílio

Tatear vacilando uns mal seguros passos em nosso pobre exílio,

Quisera desfolhar amor pelo caminho, a mais purpúrea rosa,

Pra que esse pé gentil pousasse de mansinho sobre uma flor mimosa.

Assim desfolhadinha a rosa é imagem bela, oh meu divino Infante,

Dum pobre coração que vitimar-se anela para Vós a cada instante.

A rosa, em se desfolhar, pra sempre renuncia à vida, a quanto amava.

Como ela, a Vós, meu Deus, em venturoso dia se entrega a humilde escrava.

A rosa em seu fulgor tem culto e luzimento, às festas dá seu brilho.

A rosa desfolhada, essa levou-a o vento; ninguém lhe rouba trilho...

Jesus, sacrifiquei por vosso amor, gozosa, o meu futuro, a vida.

Aos olhos dos mortais deve esconder-se a rosa pra sempre emurchecida.

Hei de morrer por Vós! De gozo em si não cabe minha alma ardente em chama.

Então, Jesus, verei se quanto pode e sabe, meu coração Vos ama.

E assim quero viver a vossos pés sem brilho, presa em divinos laços.

Pudesse eu abrandar no doloroso trilho vossos últimos passos"

Abraço e saudades.


Fábio Graa.

Blog Anjos de Adoração

Esse texto, que foi extraído de um post do blog Anjos da Adoração, é uma singela homenagem a minha irmã Laninha, que está na
Congregação das Irmas Contemplativas do Bom Pastor.

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