JMarcelo
Fotos: É
comum você comentar sobre os seus valores que recebeu de sua família. Como eles
são importantes na sua vida e de seus irmãos?
Os
valores familiares sempre foram o limite da minha conduta. De alguma maneira,
desde pequeno, sempre pensei se determinada atitude que tomaria agradaria ou
desagradaria a minha família. Sempre tive receio em ser repreendido, quando
pequeno me comportava na escola porque não passava pela minha cabeça que minha
mãe poderia receber uma reclamação ou coisa do tipo. Sempre gostei de observar
as pessoas e aprender com os bons exemplos. Adoro conversar com pessoas idosas,
ouvir histórias antigas. Meus valores são comuns, acho que por serem tão comuns,
hoje em dia sejam diferentes. São coisas básicas como respeitar as pessoas,
independente de quem sejam. Via isso nos meus avós, que tratavam todo mundo
sempre com muita atenção e respeito. Acho que essas coisas simples ficaram na minha
personalidade.
Respondendo diretamente, acho que são importantes porque me
sinto bem em ser como sou, nada além disso. Sobre como são importantes na vida
dos meus irmãos não tenho como falar, afinal embora tenha convivido embaixo do
mesmo teto e recebido à mesma educação, o ser humano é um reflexo das experiências
que vive e das oportunidades que teve. Nós sempre tivemos opiniões próprias,
embora a essência fosse à mesma.
JMarcelo
Fotos: Em
sua opinião, as atuais gerações estão recebendo valores familiares adequados?
Acho
que isso depende muito do ambiente familiar onde às crianças e adolescentes
vivem. Hoje é mais difícil colocar na cabeça de uma criança que se deve agir de
determinado modo porque esse é o modo certo de viver. As ruas, a televisão, a
internet estão repletas de exemplos de pessoas que agem desonestamente e vivem
cercadas dos luxos que boa parte das pessoas não tem. Vide os políticos,
empresários corruptos, criminosos comuns... Vivemos em uma sociedade
imediatista. Quando se quer algo tem que ser logo, deixar para depois é “coisa
de gente besta”. Com a educação e trabalho se alcança objetivos, mas nem sempre
o caminho longo é escolhido pelos jovens.
JMarcelo
Fotos: Você
mora atualmente onde?
Em
União dos Palmares.
JMarcelo
Fotos: O
que mais lhe marcou em sua infância, os tempos de escola?
Nunca
fui muito de brincar na rua. Tenho um primo que tem quase a minha idade e foi
com ele que passei boa parte da infância. Assistíamos desenhos, séries de heróis
japoneses, jogávamos bola na garagem de casa, líamos gibis, a minha infância
foi assim. São essas coisas que lembro com saudade.
Estudei em muitas escolas
daqui de União. Estudei no Educandário Menino Jesus, depois no Santa Maria
Madalena, no José Correia Viana e no Monsenhor Clóvis Duarte de Barros e fiz um
curso preparatório para prova do CEFET-AL onde a maioria das pessoas estudava
no Olímpia, ou seja, conheci muita gente. Acho que isso foi o que mais marcou
os tempos de escola, as pessoas que conheci. Fico feliz quando encontro um
colega e recebo um “olá”, um “como vai”, e fico feliz em ver que a maioria
seguiu um bom caminho e são felizes na medida do possível. Nas escolas conheci
os amigos que até hoje fazem parte da minha vida, pessoas com ideias parecidas
e o mesmo senso questionador, tenho sorte por causa disso.
JMarcelo
Fotos: Vem
da juventude o medo de cachorro? O que aconteceu?
Não
é medo, apenas não confio muito nos animais. Quando tinha cinco ou seis anos um
cachorro de uma vizinha correu atrás de mim para me morder, acho que por isso
sou cismado.
JMarcelo
Fotos: Durante
a adolescência você tocou em uma banda de rock, escreveu em jornal, que depois
virou um blog. Você era um “rebelde sem causa”?
Não
acho que era um rebelde sem causa, acho que era uma forma sadia de me ocupar e
expressar o pensava sobre União. Há alguns anos atrás era mais tranquilo viver aqui.
Era possível ficar na rua até tarde, não existia o receio que se tem hoje com a
violência, era comum grupos de amigos se reunirem nas praças e na avenida para
conversarem. Hoje em dia a avenida virou um grande bar, para ficar sentado por
lá tem que ser surdo e “tomar uma” nos estabelecimentos dos “ donos da
calçada”. A banda surgiu no contexto anterior, tive a ideia com o Wenndell e o
meu primo Tássio. Aí juntou outro amigo,
o Breno, e depois de um tempo o Marco. No início não sabíamos tocar nada, muito
menos eu sabia cantar, não que tenha aprendido, mas para as músicas que
tocávamos acho que enrolava bem.
Era muito tímido. Nos juntávamos e íamos
tentando aprender alguma coisa, com um tempo conseguimos fazer algo, era
divertido. Talvez alguns vizinhos não gostassem, mas era divertido. As letras
em sua maioria pareciam bobagens, mas existia um contexto que nós entendíamos.
Foi uma forma de expressar o que passava pela nossa cabeça, diferente do que muitos
pensam gostar ou tocar rock não quer dizer necessariamente que você se
envolverá com drogas. É ignorância pensar assim.
Conseguimos tocar em alguns
lugares, por exemplo, em uma casa de shows alternativa no bairro de Jaraguá em
Maceió. Conhecíamos muitas pessoas, foi uma época boa. O jornal estava nesse
contexto, eram opiniões pessoais e falávamos sobre cultura em geral, mas já foi
em uma época onde estávamos um pouco mais maduros. Depois inevitavelmente veio
o blogue.
JMarcelo
Fotos: Você
ainda colabora com o Tempo Moderno ou escreve em outro blog?
Não
colaboro mais, acredito que atualmente só o Walter Amaral escreve nele. Também
deixei os blogues, atualmente escrevo apenas para mim. Falta tempo para me
dedicar a outras atividades.
JMarcelo
Fotos: Como
foi a experiência de dividir a bancada do programa Mesa Z, na Rádio Zumbi?
Foi
muito boa. O Sílvio Sarmento me proporcionou um espaço que nunca imaginei ter.
Nos dois anos que participei do programa eu passava a semana em Maceió, vinha
muito cedo no sábado para poder participar e sempre tentava me preparar para o
tema que seria debatido. Na época do rádio perdi um pouco a timidez e aprendi a
falar em público, o que é muito importante. O grupo que fazia o programa era
sensacional, foi uma união de pessoas diferentes que tinham como objetivo
debater temas que eram debatidos de maneira superficial nas outras rádios. O
Sílvio nos incentivou bastante, seus ideais nos contagiava e é algo que nunca
esquecerei. Ele faz bastante falta, foi um grande amigo, quem teve oportunidade
de conversar com Sílvio Sarmento e ouvir suas histórias sentirá para sempre uma
lacuna em União dos Palmares.
JMarcelo
Fotos: Quais
as 3 entrevistas mais bacanas que você fez? Por quê?
Foram
boas entrevistas. Acho que uma delas foi à com o Pinto de Luna, Ex-Delegado da
Polícia Federal. Foi a primeira com uma pessoa de expressão estadual feita pela
grupo e foi importante para a consolidação do programa.
Na época era recente
sua atuação na Operação Taturana e se cogitava uma possível candidatura dele ao
Senado. Lembro que em um site encontrei um email dele e mandei o convite, o
programa tinha menos de um mês que estava no ar. Para minha surpresa ele
respondeu o email e veio no dia marcado. A segunda que lembro foi uma que fiz
com o Sílvio Sarmento e o Mano no fim do ano de 2010. Foi uma conversa franca,
uma oportunidade de perguntar coisas relevantes. A terceira e última foi com a
jornalista Acássia Deliê, conheci ela pela internet, na época que estudei no
CEFET-AL ela também estudou. Ela tinha acabado de publicar um livro sobre o
cotidiano do Hospital Escola Portugal Ramalho. Foi uma conversa muito boa, ela
é bastante inteligente e gostei bastante da entrevista. Você falou três, mas
gostaria de citar a entrevista com o Juiz Marcelo Tadeu, sempre o admirei como
magistrado e sua simplicidade é algo raro no meio, quem esteve naquele dia
ouvindo o programa e no estúdio aprendeu bastante.
JMarcelo
Fotos: Ter
se formado em Advogado foi uma vitória em sua vida?
Quando
fiz vestibular tentei cursar jornalismo, muito por não ter na época uma
definição sobre o que queria fazer e por admirar a profissão. Também pensei em
cursar História ou Ciência Política, essa última não tinha por aqui. Mas quando
terminei o ensino médio, pensei bastante e vi que todas as coisas pelas quais
me interessava poderiam ser compreendidas no curso de Direito. Assim, me
candidatei e ganhei uma bolsa do Prouni e fui estudar na Faculdade de Alagoas.
Quando criança nunca pensei em ser advogado, hoje acho que o curso é o único
com o qual me identifico de verdade. Já a aprovação na OAB é consequência dos
estudos, é uma vitória por ser resultado de muitas privações, minhas e
principalmente da minha família. Um dos dias mais felizes da minha vida foi o
juramento na Ordem, estar ali significava muito para diversas pessoas.
JMarcelo
Fotos: Você
se decepcionou com o corporativismo da profissão?
Sim,
infelizmente não se pune maus advogados. É conversa. Os processos disciplinares
na OAB, quando existem, são tão lentos quanto às ações judiciais. Além disso, a
estrutura de fiscalização não existe. O que torna o ambiente propício para quem
quiser cometer algo errado cometer.
JMarcelo
Fotos: Qual
é a maior dificuldade de um Advogado no interior do Brasil?
Acho
que a dificuldade é do advogado iniciante que não tem muitos recursos. Existe
aquela ideia que todo advogado é rico, mas não é bem assim. Para se iniciar
algo do nada é bastante complicado, os processos demoram e a renda do advogado
vem da conclusão dos processos. Se os processos não terminam o advogado não recebe
nada e ele, como qualquer pessoa, vive do seu trabalho. No interior a estrutura
dos órgãos do Poder Judiciário é ruim, falta pessoal e muitos servidores não
são qualificados para as funções que exercem, além disso, para alguns falta
ética e educação.
JMarcelo
Fotos: Você
está deixando de advogar, por quê?
Não
me sinto feliz com a profissão e só faço o que me deixa feliz. Se perceber que
algo não é o que quero simplesmente deixo de fazer. Não consigo fazer aquilo
que não acredito. Respeito à profissão e os profissionais que a exercem com
dignidade. Não posso dizer nunca mais, mas não pretendo voltar a exercê-la.
Basicamente é isso.
JMarcelo
Fotos: Qual o seu próximo passo na profissão?
Atualmente sou um estudante, vamos ver o que
consigo.
JMarcelo
Fotos: Bruno
cita pra os leitores as pessoas que você admira em União dos Palmares:
Professor/a:
Vou ser saudosista... José Correia Viana, não foi do meu tempo,
mas seu pioneirismo na região deve ser reverenciado por todos os palmarinos.
Dos professores que tive aqui, seria injusto se citasse apenas um, mas gostaria
de reverenciar os da Escola Estadual Monsenhor Clóvis nos anos 1999, 2001 e
2002. Durante um período, no ano de 2001, a escola estava em reforma, uma parte
tinha desabado, tínhamos aula no meio das obras, com uma lona dividindo as
turmas. Eram três turnos em dois horários, alguns davam aulas nos três turnos.
Claro que existiam aqueles que só queriam o salário e não estavam nem aí para o
aluno, mas os que se comprometeram no meio de tanta dificuldade merecem todo o
reconhecimento. Esses eu admirarei para sempre.
Empresário/a:
Nenhum e me perdoem os que agem dentro da
lei. Ocorre que analiso o empresário pela visão empresarial e respeito à
legislação trabalhista, não vejo inovação empresarial relevante ou respeito a
direitos trabalhistas em União. Há sim uma exploração do trabalho, salários
pequenos e jornadas de trabalho além do permitido pela lei, sem pagamento de
horas extras, isso é algo desumano e nada digno.
Amigo/a:
Wenndell Amaral, um
cara sensato e que tenta fazer no seu âmbito de atuação o possível na
construção de uma sociedade melhor.
Político/a:
Nenhum. Não vejo na cidade ninguém com
preparo suficiente para exercer um cargo público, seja na “posição” ou na
“oposição”, tudo se resume ao casuísmo da posição em que se encontram.
Artista:
Todos os que participam de grupos
culturais, mesmo sem o apoio e reconhecimento devido pelo poder público e pela
população. Destaco o Thiago Correia, uma pessoa que muitas vezes é vista com
maus olhos e com preconceito, mas que é um dos maiores divulgadores de nossa
cidade no meio cultural.
Advogado/a:
Volto a ser saudosista, Paulo Sarmento,
nunca o conheci mas sua conduta moral descrita pelo seu filho me fez admirá-lo
como homem público que foi. Era dedicado as ciências jurídicas, assim como
Jairo Viana. Esses dois merecem um lugar de destaque em nossa cidade.
Família:
Meu avô Lindolfo Monteiro e minha avó
Lourinete. Ele é o meu exemplo de pessoa humilde, contador de histórias diárias
e amigo. Já a minha avó, foi a maior
incentivadora dos meus estudos e referência no trato com os demais. A eles meu
eterno agradecimento e admiração. Bem como a minha Mãe, que foi servidora
pública do município, que sofreu com meses de salários atrasados em diversos
governos, que tinha uma remuneração ínfima e, com muita privação, conseguiu
oferecer educação para os seus filhos.
JMarcelo
Fotos: Como
você tem analisado União dos Palmares nessas áreas atualmente:
Política:
Falta preparo, se faz
politicagem e não política. Administração se faz com competência e não com
sobrenomes.
Progresso:
Reflexo do despreparo
dos políticos. Para se progredir tem que se planejar, e não vejo algo ser
planejado em União. Não existem objetivos a curto, médio ou longo prazo.
Objetivos concretos que realmente possibilitariam uma mudança na qualidade de
vida. Os discursos são superficiais e populistas, falta preparo de todos os
lados. A perspectiva é ruim, não vejo perspectiva de mudança.
Violência:
Consequência da falta
de políticas públicas nos últimos 24 anos que englobassem um desenvolvimento e
oportunidade para a maioria da população. Uma cidade onde quem mais emprega é o
poder público e por meio de contratos tende a ser exclusiva, assim é ambiente
fértil para o aumento da violência. O jovem palmarino mesmo graduado se não
tiver “sobrenome” não tem muita perspectiva na cidade. Ainda persiste a cultura
do “puxa-saquismo” o que é lamentável.
Cultura:
Essa é muito mal
explorada, falta planejamento e visão adequada de como atrair turistas com os
atrativos culturais existentes no município. Fica-se sempre no mais do mesmo,
assim não vai para frente.
JMarcelo
Fotos: Fale
um pouco dos seus gostos culturais?
Gosto
de filmes, jogos eletrônicos, livros e gibis. Essas coisas dão uma base moral
para muita coisa. A cultura japonesa como um todo é muito interessante.
JMarcelo
Fotos: Bruno
obrigado e fique a vontade para fazer suas considerações finais
Agradeço
o convite, inesperado e até acho não ter relevância para ser entrevistado,
entretanto, foi uma boa oportunidade para expor um pouco o que penso. Queria
apenas dizer aos palmarinos resistentes, especialmente os jovens sem
perspectiva, que eles possam de alguma maneira persistir no bom caminho, às
vezes as coisas demoram a acontecer mas um dia acontecerão.
Acreditem que é
possível alcançar um futuro melhor vivendo com dignidade e independência.
Abraço a todos.
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