Vencedor de vários prémios de inovação pedagógica da
Microsoft, Rui Lima, professor do Colégio Monte Flor, lança esta quinta-feira o
livro "A Escola que temos e a Escola que Queremos".
No seu livro aponta duas regras básicas na relação com
alunos: afetos e arriscar. Estas são ainda palavras raras na realidade das
escolas portuguesas?
Sim. Cada vez vão sendo menos porque estamos a assistir,
nestes últimos tempos, a uma mudança de atitude por parte dos professores. Há
cada vez mais professores a perceberem que o modelo de escola que temos não é
suficiente para captar a atenção de todas as crianças. E por isso há mais
professores a arriscar. É verdade que ainda vão sendo poucos para o que é
necessário fazer.
Depois da ênfase dada ao português e à matemática pelo
anterior governo, o Ministério quer promover maior equilíbrio entre as
diferentes áreas de conhecimento. Quer também uma gestão mais flexível dos
currículos, libertando tempo para estimular outras capacidades nos alunos,
nomeadamente o sentido crítico. São medidas que se ajustam ao que defende?
Sim. No livro foco precisamente a importância - até lhes
dedico um capítulo - das inteligências múltiplas. Sabemos que o ser humano tem
sempre áreas onde se destaca. Uns são mais competentes nas artes, outros nas línguas
ou na matemática. Como a minha formação também é de matemática e ciências,
acredito plenamente na importância destas áreas para o desenvolvimento de um
indivíduo ativo eficaz. Mas não nos podemos esquecer que a escola é para todos.
Dando uma ênfase exagerada às competências lógico linguísticas e matemáticas,
deixamos de dar atenção a outras competências que também são importantes. São
as tais soft skills, as competências para o século XXI. A escola deve ter em
consideração todos esses aspetos. É importante o conhecimento de base, cultura
geral, o português a matemática, mas também são importantes outras coisas. Não
acredito em áreas de primeira e de segunda. Nesse aspeto acabo por
identificar-me com o caminho que está a ser apontado.
Que impacto tiveram as metas de aprendizagem e as provas do
4.º e 6.º anos, introduzidas pelo anterior governo, nas rotinas das escolas? No
livro dá conta de muitas queixas da parte dos professores.
As metas, os exames, toda essa dinâmica. Os professores e as
crianças acabaram por estar reféns de um conjunto de metas que na maioria dos
casos eram inalcançáveis. E acabavam por centrar todo o seu modo de trabalhar
na sala de aula de uma forma direcionada par para as metas e, pior, para os
exames. Ainda há a ideia de que ao fazemos muitos exames estamos a preparar os
alunos para responderem aos exames. Normalmente não é a treinar que prepararmos
exames. Preparamos desfiando os alunos a pensar, a refletirem e a discutirem.
Os testes escritos têm o seu papel mas quando saímos da escola, da faculdade,
quantos testes escritos, quantas provas escritas fazemos? Raramente voltamos a
fazê-los. Estamos a preparar alunos para uma realidade que na sua vida
profissional não vai acontecer.
De vários setores da Educação, incluindo de alguns ex-ministros
de direita, há um apelo para que a escola dê resposta aos diferentes ritmos dos
alunos, que faça da retenção uma absoluta raridade. Mas têm sido também muitas
as reações a criticar essa abordagem, acusando-a de ser
"facilitista". Somos ainda muito conservadores no que respeita à
educação?
,
É geral. Isto acaba por não ser assim só em Portugal. Não
deveria ser mas todos os relatórios PISA, TIMMS, só nos fazem acreditar mais
ainda mais na necessidade de classificar, de preparar os tais exames. Temos a
ideia conservadora de que é através dos exames, dos chumbos, que vamos ter
cultura de exigência. Eu sou a favor da exigência, sou extremamente exigente
com os meus alunos, mas a exigência não se mede pelas notas. Como várias
pessoas já disseram, não há nada mais fácil do que chumbar. E não há nenhuma
vantagem no chumbo. É só uma forma de selecionar, de ir eliminando, até apenas
uma minoria chegar aos últimos anos de formação. Em situações muito
excecionais, a retenção do aluno pode fazer sentido, mas deve ser muito bem
estudada, através de relatórios de psicólogos, ouvindo os pais.
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