RIGO, Marivana da Silva¹; MEGGIOLARO, Tiago Henrique²
Resumo: Os processos de ensino-aprendizagem, as metodologias e os
paradigmas da área da Educação vêm passando ao longo dos últimos anos
por mudanças significativas, acompanhadas por alterações sobre a
compreensão acerca do ser professor e de seu papel no processo
educativo. Com o objetivo de compreender as significações do ser
professor e analisar o que motiva o grupo de professores e acadêmicos a
dedicarem-se ao exercício do magistério, e conhecer quais são as
significações do que é ser um “bom” professor para os alunos,
desenvolveu-se entrevistas com professores, acadêmicos e alunos da
educação básica. Diante da análise das respostas obtidas conclui-se que
ser professor é mais do que gostar do que faz, é sentir-se motivado ao
fazer e buscar minimizar a linearidade e a fragmentação dos conteúdos,
diversificando seus estudos de modo a promover maior participação dos
estudantes nos processos de ensino-aprendizagem, porque estudantes são
sujeitos que aprendem participando e construindo.
Palavras-Chave: Professor. Aluno. Aprendizagem. Motivação
Abstract: The teaching-learning process, methodologies and paradigms
in the field of education have suffered over the last few years
significant changes, accompanied by the transition on the understanding
of being a teacher and his role in the educational process. Aiming to
understand the meanings of being a teacher and analyze what motivates
the group of teachers and academic students to devote themselves to the
practice of teaching, and to know what the meanings of being a "good"
teacher to their students are, it was developed interviews with
teachers, academics and students of basic education. Through the
analysis of the responses we conclude that being a teacher is more than
enjoying what you do, it is to feel motivated to do and to minimize the
linearity and fragmentation of content, diversifying their studies in
order to promote greater participation of students in the
teaching-learning because students learn what they are participating and
building.
Key Words: Teacher. Student. Learning. Motivation
Key Words: Teacher. Student. Learning. Motivation
Introdução
Os processos de ensino-aprendizagem, as metodologias e os paradigmas
da área da Educação vêm passando ao longo dos últimos anos por mudanças
significativas, acompanhadas por alterações sobre a compreensão acerca
do ser professor e de seu papel no processo educativo.
Segundo Gadotti, “ser professor é viver intensamente o seu tempo com
consciência e sensibilidade” (2003, p. 17). Isso implica criatividade,
dinamismo, bom humor, crença, além de continuamente procurar avaliar e
renovar o fazer docente. É importante valer-se de contínua pesquisa,
para qualificar-se e ter maiores condições de proporcionar aos educandos
subsídios para enriquecer suas interações.
Ser professor é aprender com os estudantes, à medida que as
construções acontecem em conjunto. É aliar docência com discência, como
afirma Freire: “Não há docência sem discência, as duas se explicam e
seus sujeitos, apesar das diferenças que conotam, não se reduzem à
condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender” (1998, p. 25). Portanto, aprender em
conjunto é pesquisar para suprir dúvidas, discutir e procurar nessa
dialética alçar a patamares mais altos de conhecimento. Ensino e
pesquisa devem trilhar um mesmo caminhar, numa atitude processual de
investigação.
O processo de pesquisa exige dedicação, e esta necessita da
motivação, não só dos estudantes, mas também dos professores que se
utilizando, por exemplo, das experiências proporcionadas pela formação
continuada, evitam a estagnação numa mesma forma de ensinar e conceber a
educação. A formação continuada torna-se motivação que deve acontecer
além da graduação específica, através de grupos de estudo, que
questionem “como deslocar o foco filosófico de sujeito cognoscente e
ativo, voltado para dentro de sua própria consciência, para o sujeito
disposto ao agir comunicativo. O foco passa a ser a compreensão mútua
entre sujeitos que procuram entender-se sobre os fatos e as situações”
(Maldaner, 2000, p. 26). Um processo educativo crítico, ético, criativo,
construtor de autonomia se funda no diálogo, exigência radical para
constituição do mesmo numa experiência permanente de libertação.
Formação continuada, planejamento e colaboração na re-elaboração dos
currículos escolares e do projeto político pedagógico, permite ao
professor auxiliar no crescimento dos estudantes.
A elaboração deste artigo justifica-se pelas mudanças metodológicas e
paradigmáticas que vêm transformando e re-significando o ser professor.
Analisam-se de maneira reflexiva concepções sobre o que é ser professor
e o que motiva professores em exercício a continuar se dedicando ao
magistério.
Deste modo, pesquisar sobre o que é ser professor e as motivações
deste parece questão fundamental na formação acadêmica, daqueles que
pretendem exercer o magistério. Quem busca um dia ensinar, também deve
buscar o aprendizado, e aprender exige reflexão.
O educador
já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em
diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos assim,
se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os
“argumentos de autoridade” já não valem (...) ninguém educa ninguém,
como tão pouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em
comunhão, mediatizados pelo mundo (Freire, 2005, p. 79).
A essência dessa nova postura está na democracia, na distribuição do
poder. Mudança da hegemonia para discussão, do monopólio para o diálogo
que gera transformações sociais, da “mão única” para o pensar em
conjunto.
O objeto de investigação desse artigo situa-se em torno das seguintes
questões de pesquisa: 1) o que é ser professor hoje? 2) O que motiva a
ser professor? Através desses questionamentos, objetivou-se compreender
as significações do ser professor, enfocando a importância docente na
formação e no crescimento do estudante como sujeito crítico e
consciente; analisar o que motiva um grupo de professores a dedicarem-se
ao exercício do magistério e verificar suas concepções acerca do ser
professor; entender o que motiva um grupo de acadêmicos a investir a
seguir tal caminho, bem como o que significa para eles ser professor. Em
relação aos estudantes do Ensino Fundamental, pretende-se compreender
suas concepções sobre o que significa ser um “bom” professor, assim
como, o que os motiva a dedicar-se (ou não) ao estudo.
Metodologia
Inicialmente realizou-se uma pesquisa bibliográfica buscando
concepções sobre o que é ser professor, e fatores motivacionais da
profissão docente. Na sequência, desenvolveu-se uma entrevista com
professores de escolas da Educação Básica, buscando informações da
realidade vivenciada nas escolas pelos profissionais. O conteúdo da
entrevista referiu-se às questões de pesquisa supra postas, quais sejam,
1) “O que é ser professor hoje?” e, 2) O que o motiva a sê-lo?”.
Foram entrevistados seis professores de escolas da rede pública. Estas tiveram caráter de conversa e foram gravadas, com a autorização dos professores e posteriormente foram transcritas a fim de facilitar a construção dos dados de pesquisa.
Paralelamente à pesquisa de campo com os professores, realizou-se um
questionário com licenciandos do curso de pedagogia, que continha as
mesmas interrogações feitas aos professores, objetivando deste modo
verificar que concepções possuem sobre o que é ser professor e sobre o
que os motiva a estarem se preparando para tal no Ensino Superior.
Para analisar outro contexto do estudo, solicitou-se que estudantes
da Educação Básica expressassem sua opinião através de um questionário.
Para tanto, o questionário foi adaptado com a finalidade de tornar-se
mais acessível aos educandos. As seguintes questões foram apresentadas
aos estudantes do Ensino Fundamental: 1) “O que é ser um bom professor
para você?” 2) “O que o motiva, como estudante, a estudar?”.
A coleta de dados junto aos estudantes do Ensino Fundamental foi
realizada com dois representantes de cada turma das séries finais de
duas escolas, obtendo-se uma amostra de 16 pessoas por escola, um total
de 32 alunos. A seleção dos educandos aconteceu por sorteio e o
questionário foi respondido em sala de aula.
A discussão dos resultados desta pesquisa engloba algumas concepções
sobre o ser professor e suas motivações para estudantes da Educação
Básica, licenciatura e professores do Ensino Fundamental. As respostas
analisadas são identificadas por meio de um código alfanumérico, no qual
a letra “E” indica os estudantes do Ensino Fundamental, “L”, os
licenciandos e “P” refere-se aos professores. Um número acompanhando
cada letra distingue as respostas de um indivíduo para outro.
Resultados e Discussões
Uma das concepções verificadas entre os estudantes da Educação Básica
e licenciandos é de que um bom professor é motivado, dedicado e gosta
do que faz, estabelecendo com os educandos uma relação amiga. Os
universitários também se referem ao ser professor como aquele que se
atualiza e valoriza sua área, não a desconectando das demais. L3 afirma
que ser professor “é ser uma pessoa que gosta muito do que faz, e nunca
pára de aprender, pesquisar e buscar conhecimentos novos para passar
para seus alunos”.
“Estabelecer uma relação amiga com os estudantes” significa dialogar
com eles, preocupando-se com sua aprendizagem e formação, tendo
paciência e clareza nas explicações, promovendo debates, abrindo espaço
para o esclarecimento de dúvidas, colocação de opiniões, não
discriminando os que têm dificuldade e proporcionando a interação. E13,
da 7ª série, cita como sendo um bom professor aquele que “consegue
ensinar todos os alunos, pois é difícil ‘vencer’ certos conteúdos com
alunos que têm dificuldade. É aquele que lida com as palavras e
conteúdos que antes eram desconhecidos pela turma e são difíceis de
serem lembrados”.
Acredita-se que por meio de interações dialógicas a aprendizagem
aconteça mais facilmente, pois conversando com os estudantes é possível
perceber onde residem as dificuldades, bem como os conceitos dos quais
já se apropriaram. O diálogo permite relações entre o estudo e a
capacidade do estudante de entender por que ou para que estudar, e assim
sentir-se instigado a pesquisar e querer saber mais. Dialogar é uma
arte que deve ser desenvolvida não só pelo professor, mas pelo estudante
que necessita saber expressar o seu conhecimento para que possa
(re)significá-lo em novos níveis e contextos.
O diálogo é o
momento em que os humanos se encontram para refletir sobre sua
realidade tal como a fazem e re-fazem (...) na medida em que somos seres
comunicativos, que nos comunicamos uns com os outros enquanto nos
tornamos mais capazes de transformar nossa realidade, somos capazes de
saber que sabemos, que é algo mais do que só saber (...). Através do
diálogo, refletindo juntos sobre o que sabemos e não sabemos, podemos, a
seguir, atuar criticamente para transformar a realidade (Freire, 1986,
p. 123).
Relações dialógicas entre professores e estudantes permitem a
construção dos conceitos escolares, que se situam entre a realidade
cotidiana e os conceitos científicos. Os conhecimentos escolares
permitem que o estudante perceba que é importante evoluir daquilo que
muitas vezes é o senso comum. A ligação entre o mundo científico e o
cotidiano é essencial à aprendizagem, pois se a escola focalizasse em
seus trabalhos somente aquele, os educandos não compreenderiam que o
estudo refere-se, também, ao estudo do mundo que os cerca.
Se o estudante não significa conhecimento escolar, somente os decora,
depois “devolve” ao professor no momento da avaliação e esquece os
temas trabalhados, posto que esse conhecimento não foi significativo.
Nesta linha, também alguns professores da Educação Básica e graduandos
responderam que ser professor é construir com os estudantes
conhecimentos significativos que contribuam para suas vidas. Para P1
“ser professor é fazer com que o aluno consiga fazer essa relação entre
os conceitos que ele aprende, que a gente mostra na sala de aula,
conseguir que ele faça essa relação com o mundo em que ele vive, então
se a gente conseguir fazer isso, eu acho que foi realmente significativo
para o aluno”.
Esta preocupação aponta para a consciência de que o conhecimento deve
ser significativo e que a sua produção deve levar em consideração as
realidades cotidianas tanto do professor como do estudante. Atividade
esta voltada para a solução de problemas como atividade de busca,
indagação, investigação, inquirição da realidade, atividade que permita
elaborar um conhecimento que auxilie na compreensão da realidade e na
orientação da ação humana.
L6 acredita que ser professor é “estar preocupado com o que meus
alunos vivenciam e com minhas experiências e as experiências de vida
deles, construir um conhecimento que não sirva apenas para encher
cadernos que depois vão para o lixo, mas que esses conhecimentos lhes
sirvam para a vida toda”.
Essa fala sugere que não é só o professor que se preocupa com a
contextualização, mas os futuros professores e estudantes da educação
básica também estão atentos a isso. A teoria produzida na investigação
não está desvinculada da experiência, mas é uma mediação para entender a
realidade que por sua vez refaz a teoria. Teoria e prática são
correlacionadas, pois educar hoje implica enfrentar uma gama de
informações e mudanças, desafiando com olhar crítico a sensibilidade de
quem vê com autonomia.
É corrente a afirmação de que ser um bom professor é saber
estabelecer relações entre o que os estudantes conhecem e o conteúdo
novo, buscando atividades diferenciadas, informações atualizadas que
sejam relevantes para a formação cidadã, levando o estudante para outros
espaços de aprendizagem e não restringindo a formação escolar à sala de
aula.
Para o estudante E5 da 7ª série um bom professor é o que “leva os
alunos em muitos lugares e que exige do aluno. Que traz muitas
informações sobre o conteúdo”.
Estudar de acordo com a realidade do educando, assim como interagir
dialogicamente com ele, favorece o interesse e o desejo de aprender
sempre mais. Um estudo sem diálogo, pesquisas e seminários é um estudo
no qual se percebe o autoritarismo de um professor que só fala e não
escuta.
E15 da 8ª série entende que “ser um bom professor é trabalhar no
aluno a curiosidade e a vontade de aprender mais” e isso não é possível
em um monólogo. Estudantes da Educação Básica e licenciandos esperam de
seus educadores o incentivo à busca constante. Para L1 ser professor é
“buscar no ensino maneiras de fazer o aluno entender o conteúdo e querer
buscar mais, além do que é ensinado”.
Estas definições do ser professor estão fortemente relacionadas à
ideia de que a motivação exerce grande influência no processo de
ensino-aprendizagem. Segundo Bock “a preocupação do ensino tem sido a de
criar condições tais que o aluno ‘fique a fim’ de aprender” (2002,
p.121). Para os estudantes desejarem aprender é necessário que eles
entendam a utilidade do que se está aprendendo através da indução do
método da descoberta. Percebe-se assim que os licenciandos ao longo da
graduação estão construindo conhecimentos importantes para o exercício
da prática docente, quando entendem que o professor precisa desafiar e
motivar o estudante a buscar conhecimentos através das práticas de
pesquisas.
O enfoque de temas sociais como a preservação ambiental apareceu em
várias respostas de licenciandos e estudantes como algo essencial, o que
demonstra a imagem do professor como a de um ser que participa da
aprendizagem dos estudantes, exercendo um papel fundamental na formação
cidadã dos mesmos e realçando a importância de atitudes que garantam um
mundo melhor para se viver.
No entanto, esse papel na formação dos estudantes vem sendo
desvalorizado com os avanços tecnológicos. Segundo Chassot, o professor,
mesmo com os avanços tecnológicos ocorrentes, será cada vez mais
importante no processo educativo em que o estudante além de
constituir-se um técnico quanto a sua formação específica, constitui-se
em um sujeito crítico que enxerga a sociedade com os olhos de agente
transformador no lugar de um conformista que segue o sistema sem
questionamentos maiores (2006).
L17 expressa a preocupação com a desvalorização docente, quando
define que ser professor é “conviver com as dificuldades e superar as
expectativas que os alunos têm sobre o que é estudar ciências naturais, é
cativá-los e oportunizar que eles aprendam por suas experiências”.
Nota-se que alguns licenciandos estão conscientes das dificuldades que
encontrarão nas escolas brasileiras, entretanto preferem olhar o lado
positivo de ser professor e buscam alternativas para superar esta
desvalorização minimizando-a ao máximo.
Nas palavras de Gadotti, “o brasileiro desvaloriza o professor. É o
que se poderia deduzir de um dito que se tornou popular nas últimas
décadas no Brasil: ‘Quem sabe faz, quem não sabe ensina’. É sinistro”
(2003, p. 12). Esta afirmação justifica-se pelos baixos salários pagos
aos docentes, à falta de recursos didáticos pedagógicos e interesse de
alguns estudantes, frutos de uma sociedade capitalista que
frequentemente desvaloriza o professor. No entanto, o professor que se
sente desvalorizado, pode superar suas inquietações e fazer deste
descaso a força para proporcionar a conscientização de que a classe é
importante na construção sócio-cultural dos estudantes, bem como no seu
crescimento em relação a conhecimentos científicos em ciências naturais
ou qualquer outra área em que a escola ofereça formação.
Alguns licenciandos chamaram a atenção ao definir que ser professor é
atuar na transmissão de conhecimentos de forma cativante, criativa e
inovadora. Surpreende encontrar este conceito entre estudantes de
licenciatura, pois as discussões são fervorosas nos componentes
curriculares pedagógicos ao se trabalhar que os conhecimentos devem ser
construídos em conjunto e não transmitidos. A concepção de transmissão
do conhecimento é característica da teoria pedagógica diretiva a qual vê
o estudante como uma tábula rasa e acredita no educador como um locutor
e no educando como um ouvinte. Esta educação bancária, como chamou
Freire, é fragmentada e não possibilita a aprendizagem. “Saber ensinar
não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção” (Freire, 1998, p. 52).
Freire defende uma prática educativa embasada na pedagogia relacional
onde estudantes e professores socializam suas ideias, retirando das
discussões conjuntas conhecimentos que constroem aos poucos suas
estruturas cognitivas (1998). No entanto escolher a epistemologia a
seguir como educador é opção e responsabilidade de cada indivíduo.
Deve-se pensar “que professor quero ser” e “qual teoria vai me
possibilitar interagir melhor com os estudantes”.
Os professores entrevistados comentaram que ser professor é estar
preparado ou disposto a ajudar o estudante a entender e criticar os
meios de comunicações e as informações que eles apresentam. Evidencia-se
aqui a importância do professor na formação sócio-cultural dos
estudantes que usam as explicações dos seus educadores como um meio de
compreender os acontecimentos da atualidade na sua comunidade escolar ou
num contexto mundial. Deste modo, o professor tem que manter-se
atualizado e preparado para auxiliar o educando a buscar as respostas
para compreender os fenômenos e significar os conhecimentos à medida que
vai crescendo intelectualmente. Nas palavras de Gadotti os professores
podem atuar decisivamente no processo de construção social à medida que
compreendem que são essenciais na formação do caráter investigativo dos
estudantes (2003, p. 35).
Em uma das entrevistas com o professor de Ciências Naturais
encontra-se uma relação entre o ser professor e as mudanças que
ocorreram ao longo dos anos de exercício no magistério “é diferente de
antigamente, pois o livro deixou de ser o mais importante, hoje ser
professor é oferecer práticas e incluir o cotidiano do aluno no
conteúdo, de modo que este produza conhecimentos significativos ou que
pelo menos desperte o interesse do aluno no assunto (P2).
Compreende-se assim que atualizar-se é importante, bem como ter
criatividade e flexibilidade para acompanhar as mudanças que ocorrem nos
processos de ensino aprendizagem, sabendo renovar as concepções acerca
da profissão e da prática de ensino. Para ser criativo ao desenvolver
uma aula é necessário planejá-la e pesquisar sobre os temas a serem
estudados, o que implica em muita leitura por parte dos professores.
Quando o professor lê, dá o exemplo ao estudante e o incentiva a esta
prática, permitindo que ele cresça enquanto conhece o pensamento de bons
autores. Incentivar o estudante a crescer exige dedicação do professor
porque à medida que investiga e pesquisa o educando necessita de uma
orientação mais intensa, uma vez que se produz em conjunto e não
isoladamente. Segundo Freire
A ação de um
educador humanista (...) identificando-se, desde logo, com a dos
educandos, deve orientar-se no sentido da humanização de ambos. Do
pensar autêntico e não no sentido da doação, da entrega do saber. Sua
ação deve estar infundida na profunda crença nos homens. Crença no seu
poder criador... Isto tudo exige dele que seja um companheiro dos
educandos, em suas relações com este (2005, p. 71).
Para produzir conhecimento e crescer criticamente é necessária a
motivação dos estudantes e professores que se utilizando, por exemplo,
das experiências proporcionadas por projetos de formação continuada,
evitam a estagnação numa mesma forma de ensinar. Assim, buscou-se com
esta pesquisa identificar os fatores motivantes para o exercício do
magistério.
Para os estudantes de licenciatura o principal fator de motivação é a
paixão pela educação, conforme se evidencia na resposta do L13 “o que
me motiva a ser professor é a paixão, é a esperança de que haja uma
conscientização por parte das gerações que virão sobre o nosso futuro. E
também a vontade que tenho de “dividir” com meus alunos as coisas que
tanto me chamam a atenção”.
Quem não gosta da profissão não se motiva para trabalhar e não se
sente feliz em estar na sala de aula, trocando com os estudantes
experiências ricas à formação tanto técnica quanto humana dos educadores
e educandos. Gostar de ensinar e conviver com os estudantes é sem
dúvida muito importante para o exercício da docência; entretanto, só
gostar não basta. É preciso trabalhar para que as aulas sejam
proveitosas e para que se possa crescer em conjunto, preferindo-se que o
gosto pelo ensino e pelo estudo seja traduzido em ações que beneficiem a
produção do conhecimento.
Com a formação continuada, o professor tem espaço para discutir
ideias que o ajudem através do planejamento diversificar suas aulas,
visando à realidade dos estudantes. Pode assim, não ficar à mercê de
tendências como, por exemplo, o uso incontrolável da tecnologia, seja
ela referente aos computadores ou a utilização de recursos visuais
explicativos que na medida certa são bons para o educando, mas que se
utilizados em demasia tornam-se cansativos e desviam a atenção dos
estudantes. A formação continuada não tem o dever de proporcionar ao
professor uma metodologia pronta para aplicar em sala de aula, mas
questionamentos que o ajudem a crescer como educador.
A formação
continuada do professor deve ser concebida como reflexão, pesquisa,
ação, descoberta, organização, fundamentação, revisão e construção
teórica e não como mera aprendizagem de novas técnicas, atualização em
novas receitas pedagógicas ou aprendizagem das ultimas inovações
tecnológicas (Gadotti 2003, p. 31).
A formação continuada permite aos profissionais de várias realidades
sociais interagirem, trocando conhecimentos que possibilitam ao
professor rever sua prática pedagógica e problematizar com os colegas
situações vivenciadas, as quais são consideradas experiências
importantes para compartilhar no sentido de ajudar outros docentes que
se deparam com uma realidade semelhante. Para Imbernón, quando os
professores aprendem juntos, cada um pode aprender com o outro. Isso os
leva a compartilhar evidências, informação e a buscar soluções. A partir
daqui os problemas importantes das escolas começam a ser enfrentados
com a colaboração entre todos. (2000, apud Gadotti, 2003, p. 31)
Segundo P1, encontra-se motivação para ser professor no trabalho em
conjunto com outros profissionais, num processo de ajuda mútua para
enfrentar as dificuldades. A cooperação entre professores auxilia a
suprir possíveis falhas na formação dos mesmos, durante os cursos de
graduação. Aprender de forma cooperativa é também passar aos estudantes a
importância do cooperativismo nos trabalho e atividades da sala de
aula. Segundo Gadotti “O individualismo da profissão mata de ansiedade e
angústia, leva ao sofrimento e até o martírio do professor
compromissado e a desistência daquele que perdeu a esperança” (2003, p.
32).
Alguns licenciandos sentem-se motivados a dedicar suas vidas à
prática do magistério devido ao fato de poderem auxiliar os estudantes a
produzir conhecimentos e instigar a curiosidade dos mesmos
possibilitando a pesquisa sobre os assuntos trabalhados e demonstrando
que estudar é importante para entender os fenômenos do cotidiano.
Os universitários motivam-se e conotam a sua importância no
crescimento dos estudantes quando entendem que o conhecimento produzido
em sala de aula é realmente significativo à vida do educando, no sentido
dele crescer como cidadão e conseguir enfrentar problemas sociais como
drogas, violência ou gravidez na adolescência. Vêem como importante
posicionar-se frente às notícias da mídia e sendo um ser político que
consegue, a partir de suas leituras, analisar as ações de seus
governantes, criticando a sociedade e agindo para modificá-la na medida
do possível.
A formação continuada permite justamente esta reflexão do porque
passar aos estudantes determinados conteúdos ou atividades e identificar
qual o propósito de se aprender. Assim o devido valor é dado a cada
aprendizagem e o estudante tem plena compreensão da importância de
estudar constantemente e não desistir da escola aumentando os índices de
evasão escolar. Nas palavras de Gadotti “antes de se perguntar o que
deve saber para ensinar, a professora deve se perguntar porque ensinar, e
como deve ser para ensinar” (2003, p. 32).
O professor identificado como P4 motiva-se a ser professor quando
percebe o seu aluno ampliando seus níveis de conhecimentos científicos e
quando se sente desafiado a ministrar aulas para adolescentes com um
comportamento totalmente diferente da sua geração. Perceber estes
crescimentos deve ser muito gratificante, pois permite compreender que
com as discussões e atividades propostas o conhecimento foi
(re)significado em outros contextos de interação.
Analisando as respostas dos questionários dos estudantes do Ensino
Fundamental, percebe-se que a motivação para estudar é proporcionada
principalmente pela curiosidade e conhecimentos que se tem, aliada à
possibilidade de esclarecer dúvidas sobre assuntos e relacioná-los à
realidade vivenciada no cotidiano. Assim eles entendem que estudar é
importante para compreensão da vivência fora da escola, bem como sua
influência na formação cidadã de cada um quando se trabalha conceitos
como a consciência ambiental.
Alguns estudantes sentem-se motivados a dedicar-se ao estudo pelo
fato de gostar do componente e de suas atividades, ou quando o professor
inova as aulas com atividades “interessantes” associando a teoria a
prática para evitar que os conceitos sejam abordados de forma densa e
cansativa.
Portanto, percebe-se que a motivação dos estudantes está diretamente
relacionada com atividades nas quais eles participam, dialogam e
interagem com os colegas e professor, acerca de conhecimentos estudados,
estabelecendo relações e avançando nas compreensões do mundo cotidiano.
Assim, ser professor é mais do que gostar do que faz, é sentir-se
motivado ao fazer e buscar minimizar a linearidade e a fragmentação dos
conteúdos, diversificando seus estudos de modo a promover maior
participação dos estudantes nos processos de ensino-aprendizagem, porque
estudantes são sujeitos que aprendem participando e construindo.
Considerações finais
A definição do ser professor envolve uma série de concepções e não
tem um conceito exato. Vários autores contextualizam o ser professor e a
prática educativa, criticando ou concordando com as diferentes
epistemologias de aprendizagem, entretanto cada educador define a sua
prática de acordo com os valores que acredita e com os objetivos que
estabelece ao planejar e desenvolver suas aulas.
Ser professor é estar aberto a mudanças, a opiniões de educandos e
colegas, oportunizar momentos de construção de conhecimentos
significativos aos estudantes e aprender com eles, é estudar visando
manter-se atualizado e refletir sobre a aprendizagem, re-significando
sempre seu ensino.
Deste modo, ser professor é entender que além de ensinar também se
aprende e que a sua prática educativa acontece em conjunto com os
estudantes, de maneira que a construção do conhecimento auxilia na
constituição de um sujeito consciente. “A educação deve contribuir para a
autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a
viver) e ensinar como se tornar cidadão” (Morin, 2003 p. 65).
Assim, o professor atua em conjunto com os estudantes nos processos
de construção de conhecimentos e crescimento cognitivo, uma vez que
ensinar segundo Freire “não é transferir conhecimentos, conteúdos nem
formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a
um corpo indeciso ou acomodado” (1998, p. 25). Ser educador é ter
consciência da importância deste papel na formação de cidadãos e
procurar aguçar o pensamento crítico dos estudantes sugerindo leituras e
reflexões à medida que a aula vai acontecendo.
A motivação para a dedicação ao magistério é relativa a cada
profissional e deve fundamentar-se nas ações do professor e no processo
de construção deste com os estudantes. A motivação pode ser oriunda de
estudos de formação continuada e dos resultados que se tem ao
desenvolver uma prática docente onde se produz conhecimento
significativo que contribuem com a formação técnica, e principalmente,
humana dos estudantes enfocando os aspectos filosóficos, sociais e
culturais.
Enfim, ensinar é aprender em conjunto e o ensino nunca está
concluído, um assunto nunca está esgotado, novas abordagens sempre são
possíveis.
Referências
BOCK, Ana M. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: questão e desafios para a educação. 4ª ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2006.
FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 8ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
____________. Pedagogia do oprimido. 40ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. Novo Hamburgo: FEEVALE, 2003.
MALDANER, Otávio. A formação inicial e continuada de professores de química: professores/ pesquisadores. Ijuí: UNIJUÍ, 2000.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
Fonte: http://www.cnte.org.br/
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