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quarta-feira, 8 de março de 2017

Ser Professor: significações e motivações

RIGO, Marivana da Silva¹; MEGGIOLARO, Tiago Henrique²

Resumo: Os processos de ensino-aprendizagem, as metodologias e os paradigmas da área da Educação vêm passando ao longo dos últimos anos por mudanças significativas, acompanhadas por alterações sobre a compreensão acerca do ser professor e de seu papel no processo educativo. Com o objetivo de compreender as significações do ser professor e analisar o que motiva o grupo de professores e acadêmicos a dedicarem-se ao exercício do magistério, e conhecer quais são as significações do que é ser um “bom” professor para os alunos, desenvolveu-se entrevistas com professores, acadêmicos e alunos da educação básica. Diante da análise das respostas obtidas conclui-se que ser professor é mais do que gostar do que faz, é sentir-se motivado ao fazer e buscar minimizar a linearidade e a fragmentação dos conteúdos, diversificando seus estudos de modo a promover maior participação dos estudantes nos processos de ensino-aprendizagem, porque estudantes são sujeitos que aprendem participando e construindo.

Palavras-Chave: Professor. Aluno. Aprendizagem. Motivação
Abstract: The teaching-learning process, methodologies and paradigms in the field of education have suffered over the last few years significant changes, accompanied by the transition on the understanding of being a teacher and his role in the educational process. Aiming to understand the meanings of being a teacher and analyze what motivates the group of teachers and academic students to devote themselves to the practice of teaching, and to know what the meanings of being a "good" teacher to their students are, it was developed interviews with teachers, academics and students of basic education. Through the analysis of the responses we conclude that being a teacher is more than enjoying what you do, it is to feel motivated to do and to minimize the linearity and fragmentation of content, diversifying their studies in order to promote greater participation of students in the teaching-learning because students learn what they are participating and building.
Key Words: Teacher. Student. Learning. Motivation

Introdução
Os processos de ensino-aprendizagem, as metodologias e os paradigmas da área da Educação vêm passando ao longo dos últimos anos por mudanças significativas, acompanhadas por alterações sobre a compreensão acerca do ser professor e de seu papel no processo educativo.

Segundo Gadotti, “ser professor é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade” (2003, p. 17). Isso implica criatividade, dinamismo, bom humor, crença, além de continuamente procurar avaliar e renovar o fazer docente. É importante valer-se de contínua pesquisa, para qualificar-se e ter maiores condições de proporcionar aos educandos subsídios para enriquecer suas interações.

Ser professor é aprender com os estudantes, à medida que as construções acontecem em conjunto. É aliar docência com discência, como afirma Freire: “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (1998, p. 25). Portanto, aprender em conjunto é pesquisar para suprir dúvidas, discutir e procurar nessa dialética alçar a patamares mais altos de conhecimento. Ensino e pesquisa devem trilhar um mesmo caminhar, numa atitude processual de investigação.

O processo de pesquisa exige dedicação, e esta necessita da motivação, não só dos estudantes, mas também dos professores que se utilizando, por exemplo, das experiências proporcionadas pela formação continuada, evitam a estagnação numa mesma forma de ensinar e conceber a educação. A formação continuada torna-se motivação que deve acontecer além da graduação específica, através de grupos de estudo, que questionem “como deslocar o foco filosófico de sujeito cognoscente e ativo, voltado para dentro de sua própria consciência, para o sujeito disposto ao agir comunicativo. O foco passa a ser a compreensão mútua entre sujeitos que procuram entender-se sobre os fatos e as situações” (Maldaner, 2000, p. 26). Um processo educativo crítico, ético, criativo, construtor de autonomia se funda no diálogo, exigência radical para constituição do mesmo numa experiência permanente de libertação.

Formação continuada, planejamento e colaboração na re-elaboração dos currículos escolares e do projeto político pedagógico, permite ao professor auxiliar no crescimento dos estudantes.

A elaboração deste artigo justifica-se pelas mudanças metodológicas e paradigmáticas que vêm transformando e re-significando o ser professor. Analisam-se de maneira reflexiva concepções sobre o que é ser professor e o que motiva professores em exercício a continuar se dedicando ao magistério.
Deste modo, pesquisar sobre o que é ser professor e as motivações deste parece questão fundamental na formação acadêmica, daqueles que pretendem exercer o magistério. Quem busca um dia ensinar, também deve buscar o aprendizado, e aprender exige reflexão.

O educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” já não valem (...) ninguém educa ninguém, como tão pouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo (Freire, 2005, p. 79).

A essência dessa nova postura está na democracia, na distribuição do poder. Mudança da hegemonia para discussão, do monopólio para o diálogo que gera transformações sociais, da “mão única” para o pensar em conjunto.

O objeto de investigação desse artigo situa-se em torno das seguintes questões de pesquisa: 1) o que é ser professor hoje? 2) O que motiva a ser professor? Através desses questionamentos, objetivou-se compreender as significações do ser professor, enfocando a importância docente na formação e no crescimento do estudante como sujeito crítico e consciente; analisar o que motiva um grupo de professores a dedicarem-se ao exercício do magistério e verificar suas concepções acerca do ser professor; entender o que motiva um grupo de acadêmicos a investir a seguir tal caminho, bem como o que significa para eles ser professor. Em relação aos estudantes do Ensino Fundamental, pretende-se compreender suas concepções sobre o que significa ser um “bom” professor, assim como, o que os motiva a dedicar-se (ou não) ao estudo.

Metodologia
Inicialmente realizou-se uma pesquisa bibliográfica buscando concepções sobre o que é ser professor, e fatores motivacionais da profissão docente. Na sequência, desenvolveu-se uma entrevista com professores de escolas da Educação Básica, buscando informações da realidade vivenciada nas escolas pelos profissionais. O conteúdo da entrevista referiu-se às questões de pesquisa supra postas, quais sejam, 1) “O que é ser professor hoje?” e, 2) O que o motiva a sê-lo?”.

Foram entrevistados seis professores de escolas da rede pública. Estas tiveram caráter de conversa e foram gravadas, com a autorização dos professores e posteriormente foram transcritas a fim de facilitar a construção dos dados de pesquisa.

Paralelamente à pesquisa de campo com os professores, realizou-se um questionário com licenciandos do curso de pedagogia, que continha as mesmas interrogações feitas aos professores, objetivando deste modo verificar que concepções possuem sobre o que é ser professor e sobre o que os motiva a estarem se preparando para tal no Ensino Superior.

Para analisar outro contexto do estudo, solicitou-se que estudantes da Educação Básica expressassem sua opinião através de um questionário. Para tanto, o questionário foi adaptado com a finalidade de tornar-se mais acessível aos educandos. As seguintes questões foram apresentadas aos estudantes do Ensino Fundamental: 1) “O que é ser um bom professor para você?” 2) “O que o motiva, como estudante, a estudar?”.

A coleta de dados junto aos estudantes do Ensino Fundamental foi realizada com dois representantes de cada turma das séries finais de duas escolas, obtendo-se uma amostra de 16 pessoas por escola, um total de 32 alunos. A seleção dos educandos aconteceu por sorteio e o questionário foi respondido em sala de aula.

A discussão dos resultados desta pesquisa engloba algumas concepções sobre o ser professor e suas motivações para estudantes da Educação Básica, licenciatura e professores do Ensino Fundamental. As respostas analisadas são identificadas por meio de um código alfanumérico, no qual a letra “E” indica os estudantes do Ensino Fundamental, “L”, os licenciandos e “P” refere-se aos professores. Um número acompanhando cada letra distingue as respostas de um indivíduo para outro.

Resultados e Discussões
Uma das concepções verificadas entre os estudantes da Educação Básica e licenciandos é de que um bom professor é motivado, dedicado e gosta do que faz, estabelecendo com os educandos uma relação amiga. Os universitários também se referem ao ser professor como aquele que se atualiza e valoriza sua área, não a desconectando das demais. L3 afirma que ser professor “é ser uma pessoa que gosta muito do que faz, e nunca pára de aprender, pesquisar e buscar conhecimentos novos para passar para seus alunos”.

“Estabelecer uma relação amiga com os estudantes” significa dialogar com eles, preocupando-se com sua aprendizagem e formação, tendo paciência e clareza nas explicações, promovendo debates, abrindo espaço para o esclarecimento de dúvidas, colocação de opiniões, não discriminando os que têm dificuldade e proporcionando a interação. E13, da 7ª série, cita como sendo um bom professor aquele que “consegue ensinar todos os alunos, pois é difícil ‘vencer’ certos conteúdos com alunos que têm dificuldade. É aquele que lida com as palavras e conteúdos que antes eram desconhecidos pela turma e são difíceis de serem lembrados”.

Acredita-se que por meio de interações dialógicas a aprendizagem aconteça mais facilmente, pois conversando com os estudantes é possível perceber onde residem as dificuldades, bem como os conceitos dos quais já se apropriaram. O diálogo permite relações entre o estudo e a capacidade do estudante de entender por que ou para que estudar, e assim sentir-se instigado a pesquisar e querer saber mais. Dialogar é uma arte que deve ser desenvolvida não só pelo professor, mas pelo estudante que necessita saber expressar o seu conhecimento para que possa (re)significá-lo em novos níveis e contextos.

O diálogo é o momento em que os humanos se encontram para refletir sobre sua realidade tal como a fazem e re-fazem (...) na medida em que somos seres comunicativos, que nos comunicamos uns com os outros enquanto nos tornamos mais capazes de transformar nossa realidade, somos capazes de saber que sabemos, que é algo mais do que só saber (...). Através do diálogo, refletindo juntos sobre o que sabemos e não sabemos, podemos, a seguir, atuar criticamente para transformar a realidade (Freire, 1986, p. 123).

Relações dialógicas entre professores e estudantes permitem a construção dos conceitos escolares, que se situam entre a realidade cotidiana e os conceitos científicos. Os conhecimentos escolares permitem que o estudante perceba que é importante evoluir daquilo que muitas vezes é o senso comum. A ligação entre o mundo científico e o cotidiano é essencial à aprendizagem, pois se a escola focalizasse em seus trabalhos somente aquele, os educandos não compreenderiam que o estudo refere-se, também, ao estudo do mundo que os cerca.

Se o estudante não significa conhecimento escolar, somente os decora, depois “devolve” ao professor no momento da avaliação e esquece os temas trabalhados, posto que esse conhecimento não foi significativo. Nesta linha, também alguns professores da Educação Básica e graduandos responderam que ser professor é construir com os estudantes conhecimentos significativos que contribuam para suas vidas. Para P1 “ser professor é fazer com que o aluno consiga fazer essa relação entre os conceitos que ele aprende, que a gente mostra na sala de aula, conseguir que ele faça essa relação com o mundo em que ele vive, então se a gente conseguir fazer isso, eu acho que foi realmente significativo para o aluno”.

Esta preocupação aponta para a consciência de que o conhecimento deve ser significativo e que a sua produção deve levar em consideração as realidades cotidianas tanto do professor como do estudante. Atividade esta voltada para a solução de problemas como atividade de busca, indagação, investigação, inquirição da realidade, atividade que permita elaborar um conhecimento que auxilie na compreensão da realidade e na orientação da ação humana.

L6 acredita que ser professor é “estar preocupado com o que meus alunos vivenciam e com minhas experiências e as experiências de vida deles, construir um conhecimento que não sirva apenas para encher cadernos que depois vão para o lixo, mas que esses conhecimentos lhes sirvam para a vida toda”.

Essa fala sugere que não é só o professor que se preocupa com a contextualização, mas os futuros professores e estudantes da educação básica também estão atentos a isso. A teoria produzida na investigação não está desvinculada da experiência, mas é uma mediação para entender a realidade que por sua vez refaz a teoria. Teoria e prática são correlacionadas, pois educar hoje implica enfrentar uma gama de informações e mudanças, desafiando com olhar crítico a sensibilidade de quem vê com autonomia.

É corrente a afirmação de que ser um bom professor é saber estabelecer relações entre o que os estudantes conhecem e o conteúdo novo, buscando atividades diferenciadas, informações atualizadas que sejam relevantes para a formação cidadã, levando o estudante para outros espaços de aprendizagem e não restringindo a formação escolar à sala de aula.

Para o estudante E5 da 7ª série um bom professor é o que “leva os alunos em muitos lugares e que exige do aluno. Que traz muitas informações sobre o conteúdo”.

Estudar de acordo com a realidade do educando, assim como interagir dialogicamente com ele, favorece o interesse e o desejo de aprender sempre mais. Um estudo sem diálogo, pesquisas e seminários é um estudo no qual se percebe o autoritarismo de um professor que só fala e não escuta.

E15 da 8ª série entende que “ser um bom professor é trabalhar no aluno a curiosidade e a vontade de aprender mais” e isso não é possível em um monólogo. Estudantes da Educação Básica e licenciandos esperam de seus educadores o incentivo à busca constante. Para L1 ser professor é “buscar no ensino maneiras de fazer o aluno entender o conteúdo e querer buscar mais, além do que é ensinado”.

Estas definições do ser professor estão fortemente relacionadas à ideia de que a motivação exerce grande influência no processo de ensino-aprendizagem. Segundo Bock “a preocupação do ensino tem sido a de criar condições tais que o aluno ‘fique a fim’ de aprender” (2002, p.121). Para os estudantes desejarem aprender é necessário que eles entendam a utilidade do que se está aprendendo através da indução do método da descoberta. Percebe-se assim que os licenciandos ao longo da graduação estão construindo conhecimentos importantes para o exercício da prática docente, quando entendem que o professor precisa desafiar e motivar o estudante a buscar conhecimentos através das práticas de pesquisas.

O enfoque de temas sociais como a preservação ambiental apareceu em várias respostas de licenciandos e estudantes como algo essencial, o que demonstra a imagem do professor como a de um ser que participa da aprendizagem dos estudantes, exercendo um papel fundamental na formação cidadã dos mesmos e realçando a importância de atitudes que garantam um mundo melhor para se viver.

No entanto, esse papel na formação dos estudantes vem sendo desvalorizado com os avanços tecnológicos. Segundo Chassot, o professor, mesmo com os avanços tecnológicos ocorrentes, será cada vez mais importante no processo educativo em que o estudante além de constituir-se um técnico quanto a sua formação específica, constitui-se em um sujeito crítico que enxerga a sociedade com os olhos de agente transformador no lugar de um conformista que segue o sistema sem questionamentos maiores (2006).

L17 expressa a preocupação com a desvalorização docente, quando define que ser professor é “conviver com as dificuldades e superar as expectativas que os alunos têm sobre o que é estudar ciências naturais, é cativá-los e oportunizar que eles aprendam por suas experiências”. Nota-se que alguns licenciandos estão conscientes das dificuldades que encontrarão nas escolas brasileiras, entretanto preferem olhar o lado positivo de ser professor e buscam alternativas para superar esta desvalorização minimizando-a ao máximo.

Nas palavras de Gadotti, “o brasileiro desvaloriza o professor. É o que se poderia deduzir de um dito que se tornou popular nas últimas décadas no Brasil: ‘Quem sabe faz, quem não sabe ensina’. É sinistro” (2003, p. 12). Esta afirmação justifica-se pelos baixos salários pagos aos docentes, à falta de recursos didáticos pedagógicos e interesse de alguns estudantes, frutos de uma sociedade capitalista que frequentemente desvaloriza o professor. No entanto, o professor que se sente desvalorizado, pode superar suas inquietações e fazer deste descaso a força para proporcionar a conscientização de que a classe é importante na construção sócio-cultural dos estudantes, bem como no seu crescimento em relação a conhecimentos científicos em ciências naturais ou qualquer outra área em que a escola ofereça formação.

Alguns licenciandos chamaram a atenção ao definir que ser professor é atuar na transmissão de conhecimentos de forma cativante, criativa e inovadora. Surpreende encontrar este conceito entre estudantes de licenciatura, pois as discussões são fervorosas nos componentes curriculares pedagógicos ao se trabalhar que os conhecimentos devem ser construídos em conjunto e não transmitidos. A concepção de transmissão do conhecimento é característica da teoria pedagógica diretiva a qual vê o estudante como uma tábula rasa e acredita no educador como um locutor e no educando como um ouvinte. Esta educação bancária, como chamou Freire, é fragmentada e não possibilita a aprendizagem. “Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (Freire, 1998, p. 52).

Freire defende uma prática educativa embasada na pedagogia relacional onde estudantes e professores socializam suas ideias, retirando das discussões conjuntas conhecimentos que constroem aos poucos suas estruturas cognitivas (1998). No entanto escolher a epistemologia a seguir como educador é opção e responsabilidade de cada indivíduo. Deve-se pensar “que professor quero ser” e “qual teoria vai me possibilitar interagir melhor com os estudantes”.

Os professores entrevistados comentaram que ser professor é estar preparado ou disposto a ajudar o estudante a entender e criticar os meios de comunicações e as informações que eles apresentam. Evidencia-se aqui a importância do professor na formação sócio-cultural dos estudantes que usam as explicações dos seus educadores como um meio de compreender os acontecimentos da atualidade na sua comunidade escolar ou num contexto mundial. Deste modo, o professor tem que manter-se atualizado e preparado para auxiliar o educando a buscar as respostas para compreender os fenômenos e significar os conhecimentos à medida que vai crescendo intelectualmente. Nas palavras de Gadotti os professores podem atuar decisivamente no processo de construção social à medida que compreendem que são essenciais na formação do caráter investigativo dos estudantes (2003, p. 35).

Em uma das entrevistas com o professor de Ciências Naturais encontra-se uma relação entre o ser professor e as mudanças que ocorreram ao longo dos anos de exercício no magistério “é diferente de antigamente, pois o livro deixou de ser o mais importante, hoje ser professor é oferecer práticas e incluir o cotidiano do aluno no conteúdo, de modo que este produza conhecimentos significativos ou que pelo menos desperte o interesse do aluno no assunto (P2).

Compreende-se assim que atualizar-se é importante, bem como ter criatividade e flexibilidade para acompanhar as mudanças que ocorrem nos processos de ensino aprendizagem, sabendo renovar as concepções acerca da profissão e da prática de ensino. Para ser criativo ao desenvolver uma aula é necessário planejá-la e pesquisar sobre os temas a serem estudados, o que implica em muita leitura por parte dos professores. Quando o professor lê, dá o exemplo ao estudante e o incentiva a esta prática, permitindo que ele cresça enquanto conhece o pensamento de bons autores. Incentivar o estudante a crescer exige dedicação do professor porque à medida que investiga e pesquisa o educando necessita de uma orientação mais intensa, uma vez que se produz em conjunto e não isoladamente. Segundo Freire

A ação de um educador humanista (...) identificando-se, desde logo, com a dos educandos, deve orientar-se no sentido da humanização de ambos. Do pensar autêntico e não no sentido da doação, da entrega do saber. Sua ação deve estar infundida na profunda crença nos homens. Crença no seu poder criador... Isto tudo exige dele que seja um companheiro dos educandos, em suas relações com este (2005, p. 71).

Para produzir conhecimento e crescer criticamente é necessária a motivação dos estudantes e professores que se utilizando, por exemplo, das experiências proporcionadas por projetos de formação continuada, evitam a estagnação numa mesma forma de ensinar. Assim, buscou-se com esta pesquisa identificar os fatores motivantes para o exercício do magistério.
Para os estudantes de licenciatura o principal fator de motivação é a paixão pela educação, conforme se evidencia na resposta do L13 “o que me motiva a ser professor é a paixão, é a esperança de que haja uma conscientização por parte das gerações que virão sobre o nosso futuro. E também a vontade que tenho de “dividir” com meus alunos as coisas que tanto me chamam a atenção”.

Quem não gosta da profissão não se motiva para trabalhar e não se sente feliz em estar na sala de aula, trocando com os estudantes experiências ricas à formação tanto técnica quanto humana dos educadores e educandos. Gostar de ensinar e conviver com os estudantes é sem dúvida muito importante para o exercício da docência; entretanto, só gostar não basta. É preciso trabalhar para que as aulas sejam proveitosas e para que se possa crescer em conjunto, preferindo-se que o gosto pelo ensino e pelo estudo seja traduzido em ações que beneficiem a produção do conhecimento.

Com a formação continuada, o professor tem espaço para discutir ideias que o ajudem através do planejamento diversificar suas aulas, visando à realidade dos estudantes. Pode assim, não ficar à mercê de tendências como, por exemplo, o uso incontrolável da tecnologia, seja ela referente aos computadores ou a utilização de recursos visuais explicativos que na medida certa são bons para o educando, mas que se utilizados em demasia tornam-se cansativos e desviam a atenção dos estudantes. A formação continuada não tem o dever de proporcionar ao professor uma metodologia pronta para aplicar em sala de aula, mas questionamentos que o ajudem a crescer como educador.

A formação continuada do professor deve ser concebida como reflexão, pesquisa, ação, descoberta, organização, fundamentação, revisão e construção teórica e não como mera aprendizagem de novas técnicas, atualização em novas receitas pedagógicas ou aprendizagem das ultimas inovações tecnológicas (Gadotti 2003, p. 31).

A formação continuada permite aos profissionais de várias realidades sociais interagirem, trocando conhecimentos que possibilitam ao professor rever sua prática pedagógica e problematizar com os colegas situações vivenciadas, as quais são consideradas experiências importantes para compartilhar no sentido de ajudar outros docentes que se deparam com uma realidade semelhante. Para Imbernón, quando os professores aprendem juntos, cada um pode aprender com o outro. Isso os leva a compartilhar evidências, informação e a buscar soluções. A partir daqui os problemas importantes das escolas começam a ser enfrentados com a colaboração entre todos. (2000, apud Gadotti, 2003, p. 31)

Segundo P1, encontra-se motivação para ser professor no trabalho em conjunto com outros profissionais, num processo de ajuda mútua para enfrentar as dificuldades. A cooperação entre professores auxilia a suprir possíveis falhas na formação dos mesmos, durante os cursos de graduação. Aprender de forma cooperativa é também passar aos estudantes a importância do cooperativismo nos trabalho e atividades da sala de aula. Segundo Gadotti “O individualismo da profissão mata de ansiedade e angústia, leva ao sofrimento e até o martírio do professor compromissado e a desistência daquele que perdeu a esperança” (2003, p. 32).

Alguns licenciandos sentem-se motivados a dedicar suas vidas à prática do magistério devido ao fato de poderem auxiliar os estudantes a produzir conhecimentos e instigar a curiosidade dos mesmos possibilitando a pesquisa sobre os assuntos trabalhados e demonstrando que estudar é importante para entender os fenômenos do cotidiano.

Os universitários motivam-se e conotam a sua importância no crescimento dos estudantes quando entendem que o conhecimento produzido em sala de aula é realmente significativo à vida do educando, no sentido dele crescer como cidadão e conseguir enfrentar problemas sociais como drogas, violência ou gravidez na adolescência. Vêem como importante posicionar-se frente às notícias da mídia e sendo um ser político que consegue, a partir de suas leituras, analisar as ações de seus governantes, criticando a sociedade e agindo para modificá-la na medida do possível.

A formação continuada permite justamente esta reflexão do porque passar aos estudantes determinados conteúdos ou atividades e identificar qual o propósito de se aprender. Assim o devido valor é dado a cada aprendizagem e o estudante tem plena compreensão da importância de estudar constantemente e não desistir da escola aumentando os índices de evasão escolar. Nas palavras de Gadotti “antes de se perguntar o que deve saber para ensinar, a professora deve se perguntar porque ensinar, e como deve ser para ensinar” (2003, p. 32).

O professor identificado como P4 motiva-se a ser professor quando percebe o seu aluno ampliando seus níveis de conhecimentos científicos e quando se sente desafiado a ministrar aulas para adolescentes com um comportamento totalmente diferente da sua geração. Perceber estes crescimentos deve ser muito gratificante, pois permite compreender que com as discussões e atividades propostas o conhecimento foi (re)significado em outros contextos de interação.

Analisando as respostas dos questionários dos estudantes do Ensino Fundamental, percebe-se que a motivação para estudar é proporcionada principalmente pela curiosidade e conhecimentos que se tem, aliada à possibilidade de esclarecer dúvidas sobre assuntos e relacioná-los à realidade vivenciada no cotidiano. Assim eles entendem que estudar é importante para compreensão da vivência fora da escola, bem como sua influência na formação cidadã de cada um quando se trabalha conceitos como a consciência ambiental.

Alguns estudantes sentem-se motivados a dedicar-se ao estudo pelo fato de gostar do componente e de suas atividades, ou quando o professor inova as aulas com atividades “interessantes” associando a teoria a prática para evitar que os conceitos sejam abordados de forma densa e cansativa.

Portanto, percebe-se que a motivação dos estudantes está diretamente relacionada com atividades nas quais eles participam, dialogam e interagem com os colegas e professor, acerca de conhecimentos estudados, estabelecendo relações e avançando nas compreensões do mundo cotidiano. Assim, ser professor é mais do que gostar do que faz, é sentir-se motivado ao fazer e buscar minimizar a linearidade e a fragmentação dos conteúdos, diversificando seus estudos de modo a promover maior participação dos estudantes nos processos de ensino-aprendizagem, porque estudantes são sujeitos que aprendem participando e construindo.

Considerações finais
A definição do ser professor envolve uma série de concepções e não tem um conceito exato. Vários autores contextualizam o ser professor e a prática educativa, criticando ou concordando com as diferentes epistemologias de aprendizagem, entretanto cada educador define a sua prática de acordo com os valores que acredita e com os objetivos que estabelece ao planejar e desenvolver suas aulas.

Ser professor é estar aberto a mudanças, a opiniões de educandos e colegas, oportunizar momentos de construção de conhecimentos significativos aos estudantes e aprender com eles, é estudar visando manter-se atualizado e refletir sobre a aprendizagem, re-significando sempre seu ensino. 

Deste modo, ser professor é entender que além de ensinar também se aprende e que a sua prática educativa acontece em conjunto com os estudantes, de maneira que a construção do conhecimento auxilia na constituição de um sujeito consciente. “A educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão” (Morin, 2003 p. 65).

Assim, o professor atua em conjunto com os estudantes nos processos de construção de conhecimentos e crescimento cognitivo, uma vez que ensinar segundo Freire “não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso ou acomodado” (1998, p. 25). Ser educador é ter consciência da importância deste papel na formação de cidadãos e procurar aguçar o pensamento crítico dos estudantes sugerindo leituras e reflexões à medida que a aula vai acontecendo.

A motivação para a dedicação ao magistério é relativa a cada profissional e deve fundamentar-se nas ações do professor e no processo de construção deste com os estudantes. A motivação pode ser oriunda de estudos de formação continuada e dos resultados que se tem ao desenvolver uma prática docente onde se produz conhecimento significativo que contribuem com a formação técnica, e principalmente, humana dos estudantes enfocando os aspectos filosóficos, sociais e culturais.

Enfim, ensinar é aprender em conjunto e o ensino nunca está concluído, um assunto nunca está esgotado, novas abordagens sempre são possíveis.

Referências
BOCK, Ana M. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: questão e desafios para a educação. 4ª ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2006.
FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 8ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
____________. Pedagogia do oprimido. 40ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. Novo Hamburgo: FEEVALE, 2003.
MALDANER, Otávio. A formação inicial e continuada de professores de química: professores/ pesquisadores. Ijuí: UNIJUÍ, 2000.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

Fonte:  http://www.cnte.org.br/

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