De vez em quando assuntos sérios sobre educação recebem espaço na
imprensa. Desta vez, entrou em foco um estudo de dois economistas da
PUC-Rio, Maurício Fernandes e Claudio Ferraz, e que foi comentado na
revista Veja de 28 de maio pelo colunista Cláudio de Moura Castro.
Trata-se de pesquisa robusta, rigorosa, em território pantanoso e de
poucas certezas: afinal, o que faz um professor ser bom? O estudo revela
duas variáveis. Como toda boa ciência, confirma-se algo já sabido,
refina-se o conhecimento e abre-se espaço para novas indagações.
O ponto de partida é definir o que é bom professor: é aquele cujos
alunos aprendem mais. Para saber isso existem métodos bastante
rigorosos, que foram utilizados de forma competente no estudo. Isso
feito, os pesquisadores procuram saber o que diferencia professores
cujos alunos aprendem mais que os demais. A tecnicalidade é relevante,
mas vamos poupar o leitor disso.
Duas variáveis se destacam das demais. Primeiro: bons professores
usam algumas práticas - chamem-se metodologias, métodos ou estratégias -
bastante semelhantes. Isso varia pouco nas disciplinas e nos níveis de
ensino. E os resultados são fortes: o uso dessas práticas explica parte
significativa dos bons resultados dos alunos. Trata-se de evidência que
corrobora e acrescenta ao que já sabemos na literatura científia sobre
"professores eficazes".
A outra variável menos forte é o conhecimento do conteúdo. O leitor
pode ficar perplexo: como alguém pode usar práticas pedagógicas eficazes
se desconhece o conteúdo? Por exemplo, se um professor eficaz passa e
corrige dever de casa, como ele poderia corrigir uma tarefa que envolva
frações ou cálculo da terceira derivada se só conhece métodos de ensino,
e não o conteúdo?
Existem evidências sobre a importância do domínio do conteúdo pelo
professor. Mas elas são menos cristalinas. Por exemplo, sabemos que
professores com titulação muito elevada na sua área de ensino raramente
logram bons resultados. Da mesma forma que sabemos, intuitivamente, que
ninguém pode ensinar o que não sabe.
Onde está a explicação para o aparente paradoxo? Tecnicamente a
resposta é simples. A evidência sobre a importância do professor
conhecer o conteúdo está lá, ela apenas é menos visível nos resultados
dos alunos. Também não é muito claro qual conteúdo o professor deve
conhecer. De outros estudos sabemos, por exemplo, que não basta saber
conteúdos mais avançados, é preciso conhecer a fundo o conteúdo do que
se ensina. Por exemplo, um professor do 1º ano precisa conhecer a fundo
as propriedades da adição - e não apenas saber fazer as contas.
O resto da história é ainda mais importante: não basta conhecer
conteúdos. O bom professor não apenas conhece a fundo o que ensina, mas
usa métodos adequados para ensinar.
Sobre esse tema, escrevi recentemente um artigo publicado na Veja.com e disponível aqui.
João Batista Araújo e Oliveira
Presidente
do Instituto Alfa e Beto, autor de “A Escola vista por dentro”
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