Há 10 anos, jovens católicos
decidiram se unir nas noites de quarta feira, na capelinha da Creche Rainha da
Paz, próxima à Mirim, apenas para fazer adoração ao Santíssimo Sacramento e
rezar juntos. Como não havia nada de restrito, conforme íamos e fazíamos
convites a uns e outros, sem a mais mínima pretensão de que o grupo crescesse,
o número de pessoas foi aumentando ao ponto de não ser mais possível
encontrar-se naquela salinha. Era impressionante e todos nós ficávamos
surpresos com isso. O início é sempre luminoso. Falamos, então, com o Pe.
Vicente, pároco na época, e rumamos para a Igreja Matriz. Não havia entre nós
liderança, pois, como dito, não existia a intenção de fazer um grupo. No
entanto, como a coisa foi crescendo, decidimos não apenas escolher a
coordenação, mas também escolher um nome. Foi numa noite de sábado, salvo
engano, dia dedicado à Virgem, que o grupo se reuniu e, depois da oração, foi
escolhido um papelzinho com o nosso nome: “Grupo de Resgate Anjos de Adoração”,
cujas iniciais formam a sigla “Graa”.
O termo “Adoração” foi dado
porque essa era a nossa ênfase. O grupo surgiu da adoração e geralmente ocorria
diante do Santíssimo. Foi, então, desde o início chamado para a melhor parte
(Lc 10,42) que, queira Deus, nunca nos será tirada. O nome “Anjos”, antes de
indicar uma natureza, indica um tipo de serviço. Os anjos, além de contemplarem
a face de Deus, são sempre atentos às Suas ordens e lhe guardam uma perfeita prontidão.
Isso era um ideal para nós. Mas, além disso, sempre fomos muito cantantes e
muito amigos da arte, o que nos associava novamente a estes seres celestes que
cantam a glória de Deus.
Gostávamos do termo “resgate”
porque ele nos dava a clara missão de resgatar pessoas que estavam vivendo uma
vida, digamos, “alternativa”. E, de fato, o grupo era muito eficaz nisso.
Éramos freqüentados por farristas, rockeiros, e gente do underground. Muitos começaram a viver uma vida de fé a partir de
nós. Fundamos o terço dos homens, ativo até hoje. O grupo também foi a ponte
para a ida de alguns ao seminário. Temos até um amigo que, depois de nós,
estreitou os seus laços com a Igreja e hoje é numerário do Opus Dei. Alguns
outros, depois de como que sentir o sabor de Deus através de nós,
converteram-se ao protestantismo, estando lá até hoje. O grupo também fazia bem
em outros lugares: tínhamos amigos em Maceió, em Pilar, em Satuba, e vez em
quando freqüentávamos esses lugares, dando formações, participando e servindo em
retiros. Grande parte da juventude de União dos Palmares nos conhecia; muitos
punham “graa” depois do nome próprio nos seus e-mails. Chegamos a reunir 150
jovens numa noite de grupo.
Depois de um tempo, o Anjos passou por várias mudanças. Antes
carismáticos, adotamos uma postura mais tradicional. O “Resgate”, embora sem
perder o seu antigo sentido, assumiu um novo: o resgate de um catolicismo mais tradicional
que estava sendo esquecido. Ficamos impossibilitados também de continuar nos
reunindo nas quartas, pois vários de nós passamos a estudar em Maceió, à noite.
Fomos para o sábado. Mas isso complicou bastante a freqüência dos nossos
encontros, pois os sábados são os dias preferidos para os que casam. Desse
modo, a igreja não nos ficava disponível. Fomos ao bairro de Fátima. Mas nessa
época, já ocorriam reuniões. Tínhamos de esperar que terminassem, o que fazia
que o grupo começasse tarde. Muitos sequer ficavam sabendo dessas mudanças,
pelo que o número de participantes foi gradativamente diminuindo. Passamos a
nos reunir na Casa Paroquial, o que nos restringiu ainda mais. No entanto,
conforme se dificultava a nossa situação aqui na cidade, aumentavam os convites
lá fora para as formações e palestras. Foi um paradoxo.
Depois de um tempo, víamos
que não nos convinha mais, naquela ordem de coisas, manter um grupo aberto,
pois nos faltava tudo, inclusive lugar. Fazíamos, então, o grupo fechado, onde
rezávamos, cantávamos e primávamos pela formação. Os ímpetos emotivos do início
deram lugar à busca pela coerência racional da Fé, pelo conhecimento mais
sólido da Doutrina e da Tradição da Igreja, pela busca da sua mística original
e a uma postura mais apologética. Neste tempo, já havia surgido o nosso blog, o
que nos forçou ainda mais ao estudo. Alguns de nós, já formados, tiveram de ir
pra São Paulo, por conta do mestrado. Mas, como Deus é providente, outros iam
aderindo a esta vocação.
Hoje, passados dez anos,
queremos nos abrir mais uma vez, ao menos nessa ocasião, para celebrar o nosso
aniversário. Dez anos são uma vida, e, de fato, ao olhar para trás, vemos que,
por trás das nossas decisões, pecados e limitações, Deus estava criando esta
criança, alimentando-a com a Sua graça, amadurecendo-a com privações que não
entendíamos, e formando-a para o bom combate da Fé.
Queremos, por fim,
convidá-los todos à nossa festa. Será uma apresentação musical que ocorrerá no
dia 06 de Dezembro do corrente ano, no Colégio Jairo Correia de Oliveira,
antigo Santa Maria, a partir das 19 horas. Nesta época em que Deus é esquecido,
desprezado e posto de lado mesmo por quem diz ter fé; nestes tempos em que a Fé
é relegada a uma questão de foro íntimo e em que Deus perdeu o direito de ter
implicações práticas na vida social e comum das pessoas, como se Ele não fosse
Rei absoluto de tudo quanto existe, convidamos todos vocês para uma noite de
louvor e adoração. Este, precisamente este, é o tempo de o Amado ser adorado.
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