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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Pedalada até o Quilombo dos Palmares

De inegável importância histórica, o maior, mais duradouro e mais organizado refúgio de negros escravizados das Américas teve seu cenário reconstituído em 2007. É o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, situado na Serra da Barriga, interior de Alagoas. O Vá de Bike esteve por lá e mostra em fotos o que te espera nessa aventura histórica.

Nesta página você encontra informações sobre como chegar, um mapa do trajeto e uma galeria de fotos mostrando o caminho e o cenário reconstituído do quilombo mais conhecido da história do Brasil.

O Quilombo dos Palmares

Quilombo é uma palavra da língua banto que significa “povoação”. Os quilombos eram espaços de resistência à escravidão, criados em locais de difícil acesso. Neles, negros que se recusavam à submissão, exploração e violência do sistema colonial escravista aglomeravam-se e formavam núcleos habitacionais com relativo grau de organização e desenvolvimento social, econômico e político. O Brasil colonial chegou a ter centenas de comunidades quilombolas, distribuídas por diversos estados.
 
Por volta de 1580, começaram a surgir vários agrupamentos de negros fugidos, que viriam a ser comandados por Aqualtune, uma princesa congolesa. Aqualtune foi escravizada após ser derrotada em uma batalha na África, junto com 10 mil de seus guerreiros. Vendida ao Brasil como escrava reprodutora, foi trazida a Recife e vendida grávida a um engenho de Porto Calvo. Ainda nos últimos meses de gravidez, fugiu para Palmares, onde sua ascendência lhe alçou ao posto de líder das comunidades, instituindo o que viria a ser o Quilombo de Palmares – na época chamado de Angola Janga (“pequena Angola”).

Símbolo de resistência, Palmares transformou-se num estado autônomo, resistindo por quase cem anos aos ataques holandeses, luso-brasileiros e de bandeirantes paulistas. Historiadores estimam que em 1670 a população alcançou cerca de vinte mil pessoas.

Os quilombolas sobreviviam de caça, pesca, coleta de frutas (manga, jaca, abacate e outras) e agricultura (feijão, milho, mandioca, banana, laranja e cana-de-açúcar), além de praticar o artesanato (cestas, tecidos, cerâmica, metalurgia). Os excedentes eram comercializados com populações vizinhas, de tal forma que colonos chegavam a alugar terras para plantio e a trocar alimentos por munição com os quilombolas.
 
No local há diversos mirantes, que davam uma visão bastante ampla dos arredores da Serra da Barriga, o que permite perceber a inteligência estratégica por trás da escolha do lugar. Os quilombolas dispunham de armas e estratégias de defesa contra a invasão de milícias e tropas governamentais. Uma paliçada construída no sopé da Serra constituía uma proteção impenetrável, uma fortaleza rodeada por fossos que continham animais ferozes e objetos pontiagudos. Em carta à Coroa Portuguesa, um Governador-geral reportou que os quilombos eram mais difíceis de vencer do que os holandeses.

Foram necessárias cerca de dezoito expedições, organizadas desde o período de dominação holandesa, para erradicar definitivamente Palmares. Em 1694, um contingente de 6 mil homens, liderados pelo bandeirante Domingos Jorge Velho e fortemente armados com escopetas e canhões, conseguiu romper o cerco em um ataque que deixou um enorme número de homens, mulheres e crianças mortos e degolados, em um genocídio que marcaria o fim do Quilombo de Palmares. Algumas fontes afirmam que mulheres e crianças foram poupados, mas que as mães mataram seus filhos para evitar que sofressem os horrores da escravidão e as mulheres se recusaram a comer para morrer de fome.

Ferido, Zumbi conseguiu escapar com um grupo de elite e retomou a prática de guerrilha, que já havia utilizado para resgatar negros cativos durante os anos de ouro do quilombo. Aparecia em povoados, arraiais e engenhos, disseminando a lenda da sua imortalidade. Mas em 20 de novembro de 1695 foi encurralado e morto em uma emboscada. Sua cabeça foi cortada e exposta em Recife, para servir de exemplo a outros escravos e desmentir a lenda de sua imortalidade.

O trajeto

Nossa pedalada começou na entrada da cidade de União dos Palmares. Como havíamos nos deslocado de carro até lá, paramos em um posto de combustível que marca o início da jornada no mapa abaixo. O traçado representa apenas a ida, mas a volta se dá pelo mesmo caminho.

A pedalada proposta nesse roteiro não é exatamente longa (20 km), porém há muitas subidas fortes no caminho. Recomenda-se levar bastante água e algo leve para comer. O Parque, no topo da Serra, possui água e banheiros, além de opção de alimentação em uma das casas simples do local, que serve lanches e refeições. Recomendamos experimentar o “flau” (gelinho), que custa menos de R$ 1 e é bastante saboroso.

O caminho é asfaltado apenas na área urbana. Há pequenos trechos de calçamento ao longo da subida, mas o percurso é quase todo de terra e arenoso, portanto recomendamos pneus com cravos. Revise os freios, você precisará bastante deles na volta.

O site do Parque Memorial Quilombo dos Palmares dá dicas de onde se hospedar e onde se alimentar.

Por uma questão de respeito ao patrimônio histórico e a o que o local simboliza, pede-se não pedalar dentro da área do cenário reconstruído do quilombo. Empurre a bicicleta e aproveite para descansar e sentir a paz e o silêncio do lugar. Deixe a pressa do lado de fora.

 Fotos: Willian Cruz
Fonte: Vá de Bike

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