Caldas diz que crise só atinge veículos de comunicação que não têm "pixuleco" do Estado e da Prefeitura de Maceió
Parlamentar que se notabilizou pelas cobranças por moralidade e
exigências do cumprimento da lei em Alagoas, João Henrique Caldas (PSB)
vem sendo cobrado pelo atraso de pagamento de salários aos funcionários
de suas rádios, em Maceió e em União dos Palmares. Proprietário da rede
de rádios Farol junto com o pai João Caldas, o deputado federal
conhecido como JHC vem negando participar da gestão das suas empresas de
comunicação. E silenciou quando questionado pelo Blog sobre os atrasos
de salários, que variam de dois a cinco meses nas rádios.
O Blog recebeu um e-mail que relatava a situação de crise e omissão
na Rádio Farol de Maceió. “Estamos trabalhando sem receber, o que não
acontece, infelizmente, pela primeira vez. Neste ano, além de não pagar
os nossos salários, a rádio não nos dá nenhuma previsão de pagamento de
13º salário. Estamos preocupados, passando necessidade. Há muitos pais
de família nesta situação em virtude do atraso do pagamento”, diz um
trecho do e-mail recebido, em forma de uma notícia.
A mensagem eletrônica falava ainda em ameaça de greve, na emissora da
capital, cuja situação financeira teria sido agravada pelos
investimentos que a dupla de políticos teria feito na tentativa
fracassada de implantar uma programação jornalística local na TV Farol,
também administrada pela família Caldas em Maceió.
Para ir além da mensagem encaminhada de forma anônima, o Blog
conversou com funcionários das rádio Farol de Maceió e de União dos
Palmares. No caso da capital, o atraso é de quase três meses e há a
promessa de pagamento de apenas um desses meses. Em União dos Palmares, o
atraso é de cinco meses, mas haveria casos de oito meses sem receber.
Os funcionários de Maceió relataram que muitos deixam de ir
trabalhar, por não ter dinheiro para pagar pelo transporte até a rádio.
E, em União dos Palmares, até o aluguel estaria atrasado e a maioria dos
funcionários não tem carteira assinada. Alguns deles foram orientados a
conseguir anúncios para obter algum dinheiro pela atividade na rádio.
Ninguém fala em greve ou denúncia junto à Justiça do Trabalho, por temer demissões.
Cano de 100%
O jornalista Arnaldo Ferreira foi um dos profissionais que tentaram
implantar uma programação de Jornalismo local diferenciado na TV Farol,
em Maceió, no início do ano. Mas amarga até hoje o que chamou de um
inédito prejuízo de 100%. Ele afirmou ao Blog que, além de nunca ter
recebido um centavo dos Caldas, teve prejuízos por ter feito
investimentos do próprio bolso, para fazer funcionar a TV, pagando por
equipamentos e pelo transporte de alguns funcionários que já enfrentavam
problemas com atraso salarial.
Segundo Arnaldo Ferreira, após reunir um “dream team” com jornalistas
Mauro Wedekin, Mário Lima e Ricardo Rodrigues, a TV de João Caldas e de
JHC não emplacou a nova programação. Mas não foi por conta da falta de
esforço da equipe. Arnaldo Ferreira disse que nenhum dos compromissos
firmados pelos donos da emissora foi cumprido.
“Fui chamado como diretor e acabei ficando com o prejuízo maior. A TV
nunca pagou os três meses, quase quatro meses, que ficaram. Após a
greve, não voltei. Nossa ideia era de abrir um mercado na TV, com a nova
programação, atraindo novos anunciantes. Mas, não abriu-se o mercado,
muito porque não cumpriram um compromisso sequer conosco. Pois o
departamento comercial da TV não funcionava, pois alguns dos
funcionários desse departamento não tinham recebido salário sequer para
ir trabalhar. E os donos, que disseram que teriam anunciantes, não
faziam o menor esforço. Uma pena, porque era um grande projeto para o
Jornalismo alagoano”, relatou Ferreira, antes de prestar solidariedade
aos companheiros que estão sem receber na Farol.
O acordo que teria sido firmado na TV Farol seria de um valor mensal
que garantiria o piso salarial para a equipe de peso formada por
Arnaldo, complementada com uma porcentagem do faturamento de anúncios.
Além da perda salarial, Arnaldo reclama que deixou para a TV Farol um
aparelho de teleprompt doado pelo deputado estadual Pastor João Luiz e
outros equipamentos de modems.
“Em uma pauta, encontrei o deputado JHC e ele veio me perguntar como
eu estava. Respondi: ‘Quebrado, do jeito que você me deixou’. Mas ele
diz que não foi com ele: ‘Eu não. Meu pai!’ . Na minha carreira, já
tomei cano de 20%, 40% e 60%. Mas cano de 100% ainda não tinha tomado. É
muito ruim. O pai dele, o senhor João Caldas, é um fanfarão”, relatou
Arnaldo Ferreira.
O Blog apurou que a TV Farol e Rádio Farol de Maceió mudaram-se da
antiga sede na Pitanguinha para o Jacintinho, após acordo para quitação
de alugueis atrasados. E funcionários têm ouvido uma justificativa
diferente para o atraso de salários, a de que pastores estariam em
débito com os veículos de comunicação.
"Sem pixuleco"
O Blog não conseguiu obter do deputado JHC um posicionamento sobre a
situação dos funcionários de suas empresas de comunicação. Sua
assessoria afirmou que repassaria a informação assim que o parlamentar
tivesse um posicionamento sobre o assunto.
Por telefone, o ex- deputado João Caldas negou haver mais de dois
meses de atrasos salariais e atribuiu as dificuldades à crise
financeira. Segundo ele, as empresas de comunicação que não estão
atrasando salários são aquelas que “estão no bolso dos governos,
recebendo pixuleco”.
“Os órgãos de comunicação que não estão no bolso do governo nem da
prefeitura estão sentindo a crise econômica. Agora, os que estão no
bolso dos governo, não estão. Eles trocam a liberdade de expressão e
favores com o dinheiro do povo e não estão com problemas. Só não está
vendo a crise é que está em sintonância [sic] com a Prefeitura de Maceió
e o Governo do Estado.
Porque estão com a mão no bolso do contribuinte e
estão nadando em dinheiro. Estão vivendo dos acordos e da lei do
silêncio, soltando flores e confetes. Só tem dois meses [de salários
atrasados] e não tem problema, não. Está sendo resolvido. Pelo menos
estamos dentro de uma crise, dando emprego e possibilidade. Estamos em
um Estado onde as pessoas querem ter um meio de comunicação para cercear
a liberdade do povo. Isso não tem preço. Agora, quem tiver nesses
esquemas aí de prefeitura e governo do Estado aí não está com problema
não. Porque estão tudo dentro do pixuleco institucional, com o dinheiro
do povo, claro. Como não estamos nesse lado, estamos vivendo a realidade
do mercado”, respondeu João Caldas, por telefone, citando o termo
pixuleco, que ficou conhecido como suborno, propina.
Sobre o fracasso do novo projeto de jornalismo da TV Farol, João
Caldas ressaltou que não deve nada à equipe formada por Arnaldo
Ferreira. O ex-deputado federal disse que ele que foi procurado pelo
jornalista Arnaldo Ferreira com uma proposta de implantar a nova
programação e garantir o faturamento que sustentasse os custos da
equipe.
“Arnaldo Ferreira nunca foi nosso funcionário na TV nem em canto
nenhum. O contrato que ele veio propor, ele, era um contrato que ele
iriam instalar um Jornalismo, eles iriam cuidar e eles iriam arranjar
patrocinador. E se fosse para colocar em contrato ele ia ter multas
impagáveis. Esse discurso dele não cola.
“Não sei nem porque a preocupação de vocês, porque vocês que são da
imprensa, em vez de estar numa linha de construir o pouco que tem aí, a
linha de vocês é essa de pequenez. Porque o Arnaldo foi para lá porque
não vai para canto nenhum. Porque em canto nenhum ele está
trabalhando...”, afirmou João Caldas, antes de ser interrompido com a
informação de que Arnaldo Ferreira trabalha há cerca de três meses no
jornal Gazeta de Alagoas, de maior circulação em Alagoas.
Devidamente informado, Caldas prosseguiu: “Que bom que ele está na
Gazeta. Ele é um cara de ir para a rua e fazer reportagem. Mas não é um
cara de comandar nada, em hipótese alguma. O perfil dele é de caçar
notícia. Ele não está sendo verdadeiro. Vou até ligar para ele. Porque
ele deve estar confundindo as coisas ou você entendeu mal. Porque eu
acho que ele não teria nem a coragem de ser tão leviano”.
Previsão de pagamento dos funcionários? João Caldas disse que seria tudo resolvido “dentro da possibilidade”.
Fonte: Cada Minuto
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