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quinta-feira, 13 de julho de 2017

Zumbi dos Palmares! Por Elton Sipião



Zumbi dos Palmares!

          Eu sou homem, sou negro, sou filho da África, meu nome é Zumbi e, desde pequeno, a face da escravidão e do racismo esteve diante os meus olhos.

        Nunca aceitei como os brancos tratavam os meus irmãos negros, trazidos em grandes navios negreiros da mãe África. Alguns irmãos, no meio do caminho, morriam, pelas más condições sanitárias dessas embarcações.

        Os que sobreviviam tinham a certeza de que se tornariam filhos da dor constante, pois, embaixo de sol forte e chuva torrencial, trabalhariam até a morte.

        Os que não obedeciam, ou cometiam algum erro considerado grave pelos seus senhores, eram amarrados aos troncos e ferozmente chicoteados, e deste modo experimentavam um dos sofrimentos mais cruéis que a mente humana pode imaginar.

        O africano que chegava a estas terras como escravo, sabia que vinha para ele, seu filho, neto e bisneto, a escravidão mais cruel, como herança atávica, disposta na ponta do látego dos barões do café, que subjugavam os filhos da Mãe África com maldade impiedosa.

        Contra essa situação eu ergui, inconformado, o som do meu grito de liberdade, espalhando-o aos quatro ventos.

        A todo negro que quisesse recuperar sua dignidade de homem livre eu convoquei à batalha e, no Quilombo dos Palmares, uma lição de humanidade, pelo menos, lhes quis passar, a de que nenhum ser humano, seja qual fosse a cor de sua pele deveria permitir que alguém o tornasse seu escravo.

        Os pilares da sociedade escravagista eu, Zumbi dos Palmares, consegui que ficassem estremecidos. Afinal, com essa minha atitude de rebelião, eu consegui que meus irmãos despertassem para uma nova realidade, contra a estupidez humana dos senhores de escravos.

        Então, o império português estabelecido no Brasil se viu atingido pelo meu grito de liberdade e resolveu reagir, começando a caçar a mim e aos meus irmãos de senzala, com ódio e insensatez.

         Depois de muito tempo de batalhas, onde, de ambos os lados, muito sangue foi derramado, fui entregue para as mãos inimigas de forma traiçoeira, e, por meio do peso dessas mesmas mãos, conheci a agressão verbal e física, em suas formas mais torpes, tendo inclusive meu corpo violado e assassinado, de forma cruel e sádica.

        Deceparam minha cabeça, mas não meus pensamentos, que vicejaram no terreno fértil das consciências escravas. Minha boca fora emudecida, mas de outras bocas irmãs fluiriam gritos portentosos de liberdade.

        O governador de Pernambuco, Caetano de Melo Castro, mandou pendurar minha cabeça em um mastro, no entanto, mal sabia ele que, para os espíritos abolicionistas, o meu crânio fincado em um poste era como a bandeira da liberdade hasteada, recortada pelo horizonte da esperança.

        Ele assim o fez para atemorizar as lideranças de outros quilombos e para que a história do Quilombo dos Palmares não desse força à tentativa de libertação dos escravos.

        Meus irmãos não se entregaram ao desespero e derrotismo, pois, sabiam que a trilha que escolhi para andar era do amor por minha gente.

        O Quilombo dos Palmares foi somente destruído fisicamente, pois, seu espírito de fraternidade e luta permanece vivo até os dias atuais, como exemplo de esperança num mundo mais igualitário, em que um homem ou uma mulher não sejam considerados inferiores por causa da sua cor.

        Se eu fui fisicamente vencido, minhas lutas pelos ideais de liberdade não o foram. A força das minhas idéias sempre esteve na esperança do sufocamento da ditadura escravagista, que jamais conseguiu subjugar minha consciência com os elos de sua corrente de desrespeito à humanidade e dignidade do homem negro.

        Eu continuo vivendo em cada cabeça, onde o pensamento de igualdade, justiça e liberdade social brilham de forma refulgente, como luzes contra as trevas da opressão aos excluídos.

        Permaneço vivendo onde as modernas senzalas foram criadas para oprimir quem nasceu sem oportunidades de superação.

        Eu, Zumbi, neto da princesa Aqualtune, aparentemente fui vencido no dia 20 de novembro de mil seiscentos e noventa e cinco, mas, na verdade nesta data, o sistema que me oprimia é que soçobrava ante o meu mito de libertação, que, naquele dia, iniciava rumo ao apogeu.


       Em homenagem a minha Bisavó Benedita Gomes que foi filha e neta de escravos. - (Sua benção minha avó!).

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