Fotos: José Marcelo Pereira da Silva
No passado, a falta de paz e de tranquilidade moveu algumas
comunidades a criar formas de entretenimento que contribuíssem para a sua
autodefesa. Na verdade, elas camuflavam a luta em certas danças. A capoeira é
uma delas. Qual é, então, a sua origem?
A maior parte dos praticantes da capoeira é originária de
Angola e do Brasil, locais onde esta arte-dança é um instrumento de luta pela
autodefesa, segurança e liberdade. Nos dias actuais, a capoeira é praticada em
vários países de todo o mundo. Ela foi espalhada pela terra com o propósito
especial de preservar a tradição de uma acção secular que, em grande parte,
contribuiu para liberdade do povo brasileiro da opressão e da escravatura do
sistema colonial.
Nesse bailado, ninguém fica de fora. Todos – crianças, homens
e mulheres – praticam a capoeira. Ou seja, porque acreditam que esta
manifestações desportiva e artístico-cultural é também terapêutica,
beneficiando quem a pratica. Na verdade, a capoeira é originária de África, mas
ganhou grande popularidade no Brasil em resultado das condições em que os
escravos viviam no contexto colonial que – muitas vezes – concorriam para que
perdessem a vida.
Nessa vertente, a cultura africana sofreu mutações perante a
actual realidade. E daí surge a capoeira, uma luta em forma de dança que tornou
realidade a utopia da liberdade. Nesse sentido os povos oriundos dos Quilombos
do Brasil, que eram obrigados a trabalhar na agricultura – com destaque para os
canaviais e a mineração – equiparam-se, disfarçando as tácticas guerreiras na
dança a fim de aperfeiçoarem o estilo e, consequentemente, criando as bases
para lutarem contra a opressão colonial. A abolição da escravatura, em Maio de
1888, muitas vezes, associa-se aos êxitos da capoeira.
A luta
A capoeira é uma luta de defesa e ataque mortífero. Os seus
praticantes usam como – ferramentas de ataque – os pés e a cabeça, tornando os
golpes mais rápidos, calculados e fatais. As mãos também são usadas para o
ataque e a defesa. Durante as actuações, os capoeiristas apresentam-se
descalços e vestidos de branco, sendo que, segundo Melquisedeque Sacramento
Santos, contramestre de capoeira, os pés descalços retratam a realidade antiga
e a vestimenta branca a paz e a liberdade.
Por outro lado, Melquisedeque afirma que alguns capoeiristas
usam o verde – que na simbologia moçambicana significa esperança – incluindo o
branco, a cor predominante, desde os primórdios desta dança-arte, para explicar
que é desse branco que os escravos que viviam nos quilombos precisavam. O
contramestre Santos explica que, em tempos idos, a capoeira era praticada em
espaços abertos visando um melhor espaço de manobra. A experiência favoreceu
muito as vitórias do oprimidos contra os seus opressos, sobretudo porque a
luta, em si, era desconhecida pelo inimigo.
Santos explica que o termo capoeira associa-se ao facto de
que os escravos que o praticavam se deslocavam das zonas rurais, onde se
encontravam as grandes plantações, para o centro da cidade trazendo galinhas
dentro de gaiolas para vender. Nesse sentido, sempre que se divertissem, os
citadinos apreciavam aquela manifestação artística e chamavam-na “a brincadeira
dos capoeiristas”.
Com o passar dos anos, a prática foi transmitida através de
gerações que passaram a chamá-la capoeira e capoeirista quem a realiza. Desde
então, os senhores das terras proibiram a prática dessa luta entre os escravos,
instalando a pressão da polícia imperial e milícia para controlar e sancionar
os seus fazedores. A partir daí, na tentativa de ganhar a liberdade a qualquer
custo, os negros dissimularam a capoeira colocando mímicas e bailados
acompanhados de músicas, em ritmos de danças tradicionais.
Quando os senhores das terras passavam pelos acampamentos dos
negros, a “brincar capoeira”, batiam palmas apreciando a suposta dança, não se
apercebendo, no entanto, que se estava a praticar a proibida capoeira. Foi
assim que a capoeira emocionou, libertou e conquistou praticantes sobrevivendo
até os dias actuais.
O que mais se sabe sobre a capoeira?
Na verdade, a capoeira é uma junção de danças tipicamente
africanas como, por exemplo, o Xigubo e a Ngalanga, que foram modificados em
gestos e golpes violentos. Por isso, ela é também uma forma de luta muito
violenta. Contudo, Santos prefere dizer que a capoeira é um diálogo de corpos
em que – enquanto se disputa – só se vence quando o parceiro já não tem
respostas para as perguntas do seu dialogante. Ou seja, cada gesto feito dentro
do círculo é uma fala corporal, e, à medida que um projecta os pontapés, é
obrigatório que o outro retribua.
O jogo da capoeira, na forma cordial – ou dentro da roda – é
verdadeiramente um diálogo de corpos. Os dois capoeiristas partem do “pé” do
berimbau e iniciam um lento balé de perguntas e respostas corporais, até que um
terceiro corte o jogo para que sucessivamente se desenvolva até que todos
entrem na roda.
O ritmo
A capoeira é a única modalidade de luta marcial que se faz
acompanhada por instrumentos musicais. A prática deve-se, basicamente, às suas
origens africanas, com maior influência para as danças tradicionais que dessa
forma disfarçavam a peleja numa espécie de manifestação cultural, enganando os
senhores de terras e os capitães-do-mato.
No início, esse acompanhamento era feito apenas com palmas e
toques de tambores. Depois foi introduzido o berimbau, instrumento composto por
uma haste cruzada por um arame, tendo por baixo uma caixa de ressonância feita
de uma ‘cabaça’ cortada. O som é obtido percutindo-se uma haste no arame. Este
instrumento era usado, inicialmente, por vendedores ambulantes para atraírem
fregueses e mais tarde tornou-se uma ferramenta simbólica da capoeira,
conduzindo o jogo no seu próprio timbre. Os ritmos são em compasso duplo e os
movimentos são rápidos e moderados no mesmo tom do berimbau.
Para uma boa performance, o conjunto rítmico é composto por
três berimbaus – um grave chamado Gunga, um médio e um agudo chamado Viola,
dois Pandeiros, um Reco-reco, um Agogó e um Atabaque. A música tem ritmos que
são cantados e repetidos em coro por todos os artistas na roda. Um bom
capoeirista tem a obrigação de conhecer todos os instrumentos utilizados na
dança.
Fonte: Verdade
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar!
Continue nos visitando!